Descaminhos
Aconteceu com um amigo meu.
Em algum momento de sua trajetória algo não saiu como ele queria como ele teria planejado. Talvez o fato de não existir planejamento. Mas não interessa. Hoje não haverá julgamentos. Não precisará ser absolvido, porque não há estudo de culpa.
Se sua vida fosse uma viagem de trem não haveria preocupação com o destino que seria certo como é certa a próxima Estação. Mas o trem começou a descarrilar. Não sei bem quando começou, mas foi um processo lento quando fazemos analogia com o trem, mas um furacão sem freio quando pensamos numa vida.
Lento como é todo sofrimento que se preze. Roda por roda, acontecimento por acontecimento, as pistas da aventura deste desgoverno foram se apresentando que autoritário e paradoxal se colocou como a nova ordem pessoal, deixando os trilhos de lado e o destino alterado para o incerto com chegada imprevista para qualquer hora.
Veloz no raciocínio e discernimento desta dor, para ela doer mais rápido, para ela doer mais fundo. Dor que mostra limites, coisas que não pertencem mais, sonhos que não podem mais ser sonhados. Limites representando o fim.
Resgate de passados que agora parecem maravilhosos se misturam com vislumbres de um futuro sem futuro.
Luta, resistência, esperança, alternados com entrega, depressão, sentimento de injustiça.
Motivadores internos e externos se apresentam: o que importa é o presente, felicidade não existe e sim momentos felizes, espiritualidade. Importando o presente abre-se mão da espiritualidade e vice-versa. A espiritualidade por definição abre mão do que é material, mas o presente é material, representado pela prisão no corpo, aqui e agora. Viver a espiritualidade é abandonar este presente, é querer viver um nirvana que está fora deste corpo. A experiência da dor escancara que não existe a felicidade e o rumo que este trem está tomando torna os momentos felizes raros e não suficientes para alimentar os tais motivadores internos.
A Teoria se apresenta bazófia querendo racionalizar e explicar a dor, mas não resistiria à dura realidade de Praticá-la.
Fico triste por não poder ajudar, ser aquele motivador externo que resgate do fundo do lodo uma vida que era só vida e que agora é uma vida só. Vida porque respira, mas do oxigênio que aspira só devolve um rancor com suas crenças que foram trincadas, quebradas, fragmentadas, viradas em pó, em gás que agora tenta segurar em seu corpo, mas o sofrimento nauseante faz com que vomite em palavras, psicografe demônios, cuspindo vociferações.
Só me resta ficar como um cão que não tem pretensão do resgate, da compreensão, só quer ficar ao lado, não espera a esperança, não torce pela força para suportar a dor, ninguém precisa ser forte, ninguém precisa ser nada.
A expectativa zero atendendo qualquer expectativa.
Só uma certeza: estarei contigo até o fim!
(03/10/11)