Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 17 de dezembro
Oi, Pai.
Nunca imaginei que o senhor me faria tanta falta, me sinto desprotegido, as vezes como uma criança que se esconde embaixo da cama com medo do que pode surgir no escuro da noite.
O senhor partiu aos 71 anos, só que com 69 o avc lhe silenciou, em muitos momentos fico me perguntando o que poderiamos ter feito e deixamos de fazer ou talvez ter feito melhor.
Queria tanto uma maquina de viagem no tempo e voltar no tempo e lhe pegar pelo braço, leva-Levá-lo a um hospital, talvez, o senhor ainda estaria conosco.
Mas, vamos lá...
O senhor sempre foi um homem precavido e cuidou do seu lugar de descanso antes mesmo que qualquer um de nós tivéssemos que o fazer.
Foi vendo uma propaganda vinculada a TV, que o senhor fez sua escolha, entrou, em contato com o setor de vendas do Memorial Vale da Saudade, efetivou sua compra e aliás, digo, sempre, não era apenas um homem de gosto refinado de trajes ou um homem de estirpe com comportamento de um gentlemen, mas, me surpreendeu com seu local de descanso, um local de despedida, mas, também com um ar de paz e simplicidade de natureza, discreto, sem aquela característica pesada, com velas espalhadas, muito pelo contrário, um local com um verde de vegetação bem cuidada, um local de tratamento humanizado, onde impressionantemente até esquecemos do momento de dor.
Pai, vou lhe confessar, até neste momento, sem sombra de dúvida, soube escolher muito bem.
As cartas vão continuar.