Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 16 de dezembro
Bom dia Pai.
Bem, da carta do dia 15 para de hoje, daremos um pulo de uma década.
Eu estudava numa escola pública de referência, onde o semhor havia dado uma palestra, algum tempo antes.
Estamos, então, no ano de 1994. Tinha uma professora que rotineiramente organizava excursão, fomos, o senhor, mamãe, minha irmã pequena e eu.
Foi excelente a viagem, mas, como todo pai, o senhor não foi diferente, me fez passar aquela vergonha, jamais esquecida, até hoje.
O senhor, deu aquele mergulho na praia, algo que poderia ser normal, mas, não com os óculos escuros no rosto, inusitado, mas...
Certo dia, chego em casa e encontro apenas uma de minhas cunhadas, que já me aborda, dizendo não se preocupe, está tudo bem. Só que aquilo me chamou a atenção e muito.
Fato, que nem podia desconfiar, mas, sempre, conheci a rotina e achei muito estranho mesmo.
Poucas horas, chega minha mãe aos prantos, falando de um tiro, começo a tirar minhas conclusões, achei que como minha cunhada estavaRolling havia acontecido ao meu irmão, questionei minha mãe e ela nada me disse, mas, com a chegada de cada vizinho, fui juntando o quebra cabeças, o fato é que:
Fui para escola e logo em seguida, minha mãe recebe uma ligação informando que o senhor estava hospitalizado, ela não se demorou e foi ao seu encontro. Naquele dia, o senhor havia se decidido desfazer de uma arma de fogo, mas, ao chegar num prédio empresarial o elevador estava com problemas, daí, o senhor vai pelas escadas e descuidadamente pisa em uma caneta que o faz cair e a arma acidentalmente disparou contra seu rosto, mas, não se tratava de uma munição comum, se tratava de uma rolling point, que tem um orifício na ponta, fazendo com que o ar seja acumulado e cause um impacto de maior potência, o que fez com que, ossos do seu maxilar,cartilagem nasal e dentes fossem quase que destroçados, ao invés de lhe prestarem socorro, furtaram sua documentação, fazendo com que o senhor, fosse socorrido a um hospital público e receber o tratamento de indigente, o senhor ficou num corredor, sem a devida atenção.
Mas, esse quadro foi rapidamente modificado e ao lhe identificar como militar do exército, logo, a família foi notificada e sua transferência para o hospital militar, providenciada. Essa fase foi tão traumática para mim,que não recordo por quanto tempo perfurou, mas, o senhor superou e colocou até prótese dentária, implantes de prótese de platina interno no maxilar, voltou até a comer suas carnes com ossos que sempre gostou, claro, toda vez que o senhor comia, dava a impressão que estava gripado.
Até disto, sinto falta.
As cartas vão continuar.