UMA ANTIGA CARTA DE AMOR
Querido,
Quisera dizer-te francamente que eu te amo. Mas não me cabe este direito. E eu sofro tanto, sofro com tua cruel indiferença. Sofro como jamais poderás imaginar. Se tens o intuito de magoar-me e, assim, vingar-te pelo mal que involuntariamente te causei; creia, já o conseguistes.
Por que me separei de ti, amor? Se quando te encontrei, encontrei também o verdadeiro amor. E, desde então, minha alma, esta alma tão carente do teu carinho, nunca mais encontrou paz... Sim, porque tua lembrança vive a perseguir-me constantemente.
Os teus olhos, esses olhos que eu adoro, martirizam-me de amor! Eu quis te afastar de mim, julgando que seria o mais prudente. Que tola eu fui! Se, desde então, a saudade me atormenta e o desejo de tê-lo junto de mim exaspera-me... porque, agora, és tão inatingível quanto o sol distante!
Que tortura ver-te passar na rua como se fosses um estranho. Sentir o amor transbordando e fingir indiferença... Querer correr ao teu encontro e fugir de ti... Querer chamar-te, mas calar-me.
Depois, completamente imóvel, ver afastar-te mais e mais; até te perderes na distância. Seguindo cada vez mais para longe de mim. Querer escutar tua voz e nada ouvir de ti. Quase morrer de emoção e aparentar frieza. Esperar de ti um pequeno indício que demonstrasse que não me esquecestes, mas só receber indiferença.
Como dói terrivelmente tudo isto! Sinto-me enlouquecer de tanta dor.
Um dia eu me cansarei de tanta hipocrisia, esquecerei todos os preconceitos da sociedade, esquecerei até da minha própria dignidade; e então te direi a verdade. Mostrarei a força do meu amor que se alastra dia a dia como se fosse as chamas de um incêndio...
Neste dia eu te direi frente a frente:
“Eu te amo!”.
São Vicente, 21 de setembro de 1964.
Pintura de Otto Dix
Quando escrevi esta carta, na década de sessenta, as moças eram muito recatadas. Não ficava bem uma jovem declarar seu amor a um rapaz ou tomar qualquer iniciativa para uma aproximação...
Dois anos depois de ter escrito esta carta, que nunca chegou ao seu destino, eu soube que o destinatário estava noivo de outra moça... e, desde então, não o vi nunca mais!
Querido,
Quisera dizer-te francamente que eu te amo. Mas não me cabe este direito. E eu sofro tanto, sofro com tua cruel indiferença. Sofro como jamais poderás imaginar. Se tens o intuito de magoar-me e, assim, vingar-te pelo mal que involuntariamente te causei; creia, já o conseguistes.
Por que me separei de ti, amor? Se quando te encontrei, encontrei também o verdadeiro amor. E, desde então, minha alma, esta alma tão carente do teu carinho, nunca mais encontrou paz... Sim, porque tua lembrança vive a perseguir-me constantemente.
Os teus olhos, esses olhos que eu adoro, martirizam-me de amor! Eu quis te afastar de mim, julgando que seria o mais prudente. Que tola eu fui! Se, desde então, a saudade me atormenta e o desejo de tê-lo junto de mim exaspera-me... porque, agora, és tão inatingível quanto o sol distante!
Que tortura ver-te passar na rua como se fosses um estranho. Sentir o amor transbordando e fingir indiferença... Querer correr ao teu encontro e fugir de ti... Querer chamar-te, mas calar-me.
Depois, completamente imóvel, ver afastar-te mais e mais; até te perderes na distância. Seguindo cada vez mais para longe de mim. Querer escutar tua voz e nada ouvir de ti. Quase morrer de emoção e aparentar frieza. Esperar de ti um pequeno indício que demonstrasse que não me esquecestes, mas só receber indiferença.
Como dói terrivelmente tudo isto! Sinto-me enlouquecer de tanta dor.
Um dia eu me cansarei de tanta hipocrisia, esquecerei todos os preconceitos da sociedade, esquecerei até da minha própria dignidade; e então te direi a verdade. Mostrarei a força do meu amor que se alastra dia a dia como se fosse as chamas de um incêndio...
Neste dia eu te direi frente a frente:
“Eu te amo!”.
São Vicente, 21 de setembro de 1964.
Pintura de Otto Dix
Quando escrevi esta carta, na década de sessenta, as moças eram muito recatadas. Não ficava bem uma jovem declarar seu amor a um rapaz ou tomar qualquer iniciativa para uma aproximação...
Dois anos depois de ter escrito esta carta, que nunca chegou ao seu destino, eu soube que o destinatário estava noivo de outra moça... e, desde então, não o vi nunca mais!