Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 10 de dezembro.
Estamos caminhando para metade das cartas, mas, confesso, pai, já estou sentindo falta.
Como sinto falta de sua voz, de seu sorriso, olhar, de suas belas orações a cada passagem de ano.
Mas, vamos, adiante.
Foi no momento que sai daquele hospital que percebi que estava realmente me despedindo e sendo preparado.
Quantas vezes depois, fui ao hospital só e acabei sentando naquele banco, perdido, sem chão.
Lá, os médicos diagnosticaram infecção urinaria por conta de um cálculo renal e que necessitava urgentemente de uma intervenção cirúrgica, todas as vezes que fui lhe ver pai, declarava de todo meu coração o amor que sinto pelo senhor.
Certa vez, cheguei ao seu quarto no hospital e dei de cara com meu irmão, o segundo, no total de seis, a caçula estava no banheiro e este meu irmão nada falava com o senhor, agia, como se o senhor não estivesse ali. Nisso chegou uma médica para efetuar um procedimento e pediu uma ajuda para levantar sua perna, logo, me ofereci, mesmo, com minha restrição física, o fiz, o senhor fez um sinal que era semelhante a um resmungar. Acho que era doloroso o toque.
Sabe, pai, não julgo meu irmão por estar em silêncio na sua presença, afinal, cada um encara momentos adversos de um maneira muito íntima.
Esse jeito calado, entre nós filhos, pode até ser encarado como cultural.
O fato:
Me senti bem, cuidando de uma forma tão efetiva com o senhor que nunca médium esforços por mim e por toda família.
Eu sinto muito sua falta, nesses dias, senti seu toque e isto me fez copiosamente chorar. Estou com muitas saudades sua.
Te amo pai, até nossa nova carta.