Meu pai e as 29 cartas de dezembro. Dia 4 de dezembro.
...voltei pai, antes de tudo, gostaria de lhe dizer que estou conversando com o senhor e registrando esse diálogo em forma de cartas, sabe o tem me feito feliz? Tem pessoas nos lendo e gostando. Legal né?
Mas, vamos, lá.
No início de julho de 2015 comecei a trabalhar, numa seguradora, um enorme desafio, sabe pai, por que, não, sabia nada de seguros, até nisso, me espelhei em suas vitórias pessoais.
O senhor teve alta neste mesmo período da uti, ufa, um alívio, como não poderia ser diferente, o primeiro dia, ainda tinha pendencias como abrir uma conta no banco, por coincidência, no mesmo bairro do hospital, veja que coisa, resolvi a pendencia e fui lhe ver, o senhor estava com uma das mãos amarradas por uma atadura, na verdade imobilizada, já, estava, lamentavelmente, sem falar, mal abria os olhos e não estava apresentando muitos gestos, por mim, interpretado, que dessem a sensação serem para se comunicar.
Como este período foi de muitas incertezas, não deixava, que mamãe ficasse só, vi o olhar dela pesaroso, algo, ela estava escondendo, mas, sempre soube, como fazer ela desabafar, ela me falou das dificuldades financeiras que estava começando a atravessar.
Avc (acidente vascular cerebral), antes popularizado como derrame cerebral, afeta diretamente o cérebro, óbvio.
No dia 10 de junho, (de acordo com minha mãe, pois, só soube, quando o senhor já estava no hospital), o senhor, estava com um comportamento estranho desde a madrugada, mas, como, não tinha o costume de se abrir, talvez, para não preocupar, apenas, estava reclamando de dor de cabeça, mas, sempre, dizendo,que estava leve e logo ia passar.
Mas, quando, mamãe , despertou, notou, que o senhor estava agitado e perguntou:
O que foi veinho?
O senhor respondeu:
Não, estou achando o isqueiro, já faz um tempo.
Dito, isso, o senhor foi para cozinha e se serviu de um café, em uma das mãos estava um cigarro e na outra o isqueiro.
Daí, mamãe , lhe confronta:
Você, está procurando o que?
O senhor:
O isqueiro.
Mamãe, outra vez:
Meu véio, (apelido carinhoso que se tratavam.), o isqueiro, está na sua mão. O senhor pergunta: Mas, cadê minha mão?
Rapidamente, mamãe , liga para um de meus irmãos, assustada e o senhor deita-se no sofá, minha mãe, pede que ele venha ajudar, meu irmão chega e pergunta se o senhor está bem, como de costume, o senhor, diz que sim, mas, com atitudes suspeitas, então, meu, irmão liga para o Samu e quando chegam, fazem o primeiro atendimento e notam alterações em sua pressão arterial, orientam que os acompanhem ao hospital e o senhor se recusa, minha mãe, fica desorientada e insiste, daí, o senhor topa, entra, na ambulância e em 15 minutos de trajeto, diz que não está bem e deita.
Precisava, detalhar o ocorrido. Retomando, o senhor e minha mãe, tinham um trato até hilário, o senhor dava um salário a ela e juntos dispensariam uma empregada doméstica , com sua estrutura física, avaliamos inicialmente, não se tratar de algo grave, então, minha mãe usou boa parte deste recurso em meio de transporte, já que a diferença de idade entre vocês é 5 anos, alimentação extra para minha irmã, ela mesma e meu irmão num rodizio de acompanhamento, o fato é que este aporte financeiro, foi logo desestruturado, minha mãe começou, então, sua labuta, para ter acesso as suas contas e necessitou de um serviço profissional de um escritório de advocacia, então, eu, mesmo, novato, na empresa, consegui uma linha de crédito e dei o que pude para ajudar principalmente em alimentação e transporte, chamei a atenção de um dos meus irmãos para que ele também ajudasse.(somos em 6 filhos).
Nada disso foi culpa sua, não tinha como adivinhar, entende , pai?
Nos ajustamos e enfrentamos juntos e o senhor teve alta do hospital, graças a Deus.
Mas, em outubro, meu filho, mais velho (9 anos), estava tossindo e como a empresa me oferecia um plano de saúde top, para mim, esposa e meu casal de filhos, o levei para avaliar no médico, foi aí que me destroçei psicológicamente.
Chegou com uma pequena tosse, mas, a saturação (oxigênio no cérebro), estava muito abaixo dos níveis, foi direto para uti, imagine pai, como me senti, o senhor, tem alta e meu filho agora numa uti.
Acabei, agindo institivamente, fique permutando com minha esposa, como acompanhante por 10 dias, já que não poderíamos deixar a mais nova desamparada também.
Ele teve alta, foi muito bem tratado, mas, para empresa, fiquei um pouco com o prestígio baixo, coisa que logo, fiz muda.
Então, chega dezembro e o senhor tem um severo refluxo e crise de abstinência a falta de um medicamento.
O refluxo, foi consequência a cama que o senhor estava em casa, que não era apropriada e o alimento estava indo direto para os pulmões, lhe causando, infecção pulmonar, rompemos 2015/16 sem sua presença, lá estava o senhor, novamente numa outra uti....
As cartas, não acabaram, irão continuar...