Lispector, me ouça?!
Amo tudo o que leio sobre você. Mas sua literatura me mata. Ela me golpeia sem dó, então te evito.
Pense nisso como um elogio! Tenho pavor que você chegue tão próximo de mim. Tenho receios, e você percebe, ainda que eu finja nada demonstrar.
Mas esse ar que me ronda, também é seu. E é bem caro o tino, tinto, que me envolve. Toda sua loucura me reflete, e eu a reflito, escancaradamente.
Acredite que minhas verdades foram suas. E eu sei. Em algum lugar de qualquer livro seu, também existo. Eu ouço cada vírgula e ponto com tensão e tristeza. Reconheço sua pontuação a quilômetros, e eu ouço, melhor do que escuto.
Tenho um pavor do nada de te ler e ver mudar as coisas, ainda que não rapidamente. Sua palavra me apavora. Deus queira que não haja fotografias em branco por aí.
Tenho um pavor danado que você me esqueça.
E no fim, eu lembre das respostas que você não deu, todas em silêncio.