De Chechel a Mimita

De Chechel a Mimita

Chérie querida,

que bom que tenhas retomado o hábito e o gosto de escrever-me. Podes medir a alegria estampada em meu rosto em sorriso largo, sem ruga sequer para um mancebo que, fugindo das normas, só pensa em reformas.

Vê: somente agora adentrada madrugada é que pude concluir meus encontros e parlenda extra-agenda. E o faço aqui, na quietude do Jaburu para não desperdiçar transporte e energia na magnanimidade do Palácio do Planalto, assim como para manter mesmo sem poder adular, o aconchego do lar. Mulher, filho, sogra, ah quanta ventura tê-los ao alcance dos olhos, dos ouvidos e do tato.

Nessa noitada mesmo em que o cair da tormenta nossa alma apascenta Chela chamou-me por reiteradas vezes para dar uma ajuda com o dever de casa do petiz, para tomar um caldo diante da pregação do velho amigo RR Soares, e de mais um capítulo dos Simpsons mas, qual o quê, o trabalho me absorve com tamanha intensidade que, sem bravata, mal posso folgar o nó da gravata.

Aliás essa última Hermès que me enviaste pelo aniversário é um show de elegância e sobriedade, comme il faut. Só não consegui ainda, na mais profunda hermenêutica, interpretar essa atroz atração que tens pelo meu pescoço. Creio que vives a pensá-lo toujours en français. E podes escrever aí, no engravatar superas de longe, o amigo Henri Sobel.

Ando mesmo deveras carente de umas boas férias, coisa de uma semana, eu di-lo-ia, sem medo de medoclizar...As malas, já as temos preparadas desde que o amigo Geddel mas disponibilizou e, com as insistentes chamadas de sua amiga Tici, de Nova York, Chela definiu o roteiro, estamos esperando apenas sinais de maturidade no jovem Rodrigo que deve me substituir nesse curta ausência.

Estou pensando deixar o infante aos teus cuidados. Disciplinadora e zelosa que és, sei que o garoto muito se beneficiaria em tua companhia, com muita propriedade por sinal na iniciação do français. Depois que ouvi aquela tua entrevista à emissora suíça, conduzida inteiramente na língua de Victor Bardot, cativei-me por completo.

Estou sendo chamado aqui para atender a mais um encontro extra-agenda e embora me penalize interromper, vou cumprir meu dever. Só espero que não seja algum falastrão de ocasião.

O pão de queijo será sempre bem-vindo, quando de ti provindo.

Votos de um dia lindo,

avec toute l'amitié de ton Chechel

PS: Estamos buscando uma forma - que já encomendei o Jurídico - de livrar Mme de Valois das agruras salariais, bem como da por demais extensa jornada de trabalho.

Cheguei a caçoar com o bom Gandrinha sobre a sua insistência em vê-lo em meu Gabinete, onde certamente seria membro destacado mas ele, uma vez mais afirmou-me que nada faria antes de ser mesmo Ministro da Eucaristia.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 12/11/2017
Reeditado em 12/11/2017
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