Como entender as emoções de uma adolescente que se refugia em um silêncio persistente? Resposta: talvez esta carta imaginária possa lhe ajudar. A maioria dos adolescentes entra em conflito com seus pais. Esse período é muitas vezes percebido como uma etapa incontornável para a idade adulta, essa fase é tão dolorosa para a criança quanto para os pais.
Na ordem do dia, percebe-se o terrível silêncio que se ergue subitamente entre uma e outra... Um silêncio que é ainda mais ensurdecedor que se sabe o que persistentemente ele oculta: é uma avalanche de sentimentos fortes e novas emoções que a adolescente não consegue assimilar e muito menos formular. Daí a importância desta carta imaginária pra lhe ajudar a entender sua adolescente.
Na ordem do dia, percebe-se o terrível silêncio que se ergue subitamente entre uma e outra... Um silêncio que é ainda mais ensurdecedor que se sabe o que persistentemente ele oculta: é uma avalanche de sentimentos fortes e novas emoções que a adolescente não consegue assimilar e muito menos formular. Daí a importância desta carta imaginária pra lhe ajudar a entender sua adolescente.
"Querida mãe,"
Aqui está à carta que eu gostaria de poder lhe escrever. No conflito o qual estamos agora, eu precisei chegar a isso. Preciso deste debate. Eu não posso explicá-lo em palavras porque eu ainda não tenho um vocabulário adequado para fazê-lo, e porque, de qualquer maneira, o que eu diria não faria sentido para você, mas eu preciso deste debate desesperadamente.
Eu preciso te detestar e preciso que você sobreviva a isso. Eu preciso também que você sobreviva ao fato de que muitas vezes eu lhe odeio e que você também me odeia. Mas eu preciso desse confronto mesmo que a gente no momento se deteste.
Pouco importa o porquê de estarmos em conflito: talvez pela hora de dormir, hora das lições de casa, montão de roupas sujas no cesto, meu quarto bagunçado, hora de ficar em casa, hora de sair de casa, nossa vida familiar, amiguinhos (as), sem amigos, as más companhias... Pouco importa. Eu preciso bater de frente com você sobre esses assuntos e preciso que você se oponha a mim em nossa falta de correlação.
Preciso desesperadamente que você segure a outra extremidade da corda que agora lhe estendo. Quero que você se agarre firmemente a ela enquanto eu puxo do meu lado para que eu tente encontrar um apoio neste novo mundo ao qual eu sinto que pertenço.
Antes, eu sabia quem eu era, sabia quem você era e quem nós duas éramos. Mas agora eu não sei mais nada. Neste momento, eu estou procurando meus limites, e, às vezes, eu só posso encontrá-los se eu puxar a corda até o fim, pois puxar meus limites me permite descobri-los. Então, eu sinto que eu existo e durante um minuto eu posso respirar aliviada.
Eu sei que você se lembra da criança doce que eu era. Eu sei disso porque eu sinto falta dessa criança também e, muitas vezes, essa nostalgia é uma coisa muito penosa para mim. Mas eu preciso dessa luta para constatar que não importa o quão terríveis ou exagerados são os meus sentimentos, porém, eles não destruirão nem você e nem eu. Eu quero que você me ame mesmo quando eu der o pior de mim e até mesmo quando parecer que eu não te ame, mas eu preciso agora que você se ame e que me ame por nós duas.
Sei que é uma droga não ser amada e ser rotulada como sendo uma ignorante. Eu sinto o mesmo por dentro, mas eu preciso que você me tolere e que você obtenha a ajuda de outros adultos para isso porque eu, eu não posso lhe ajudar neste momento.
Se você quiser se reunir com seus amigos adultos e formar um "Grupo de Apoio para Sobreviver à Fúria das Adolescentes", está tudo bem para mim; ou se quiser falar de mim nas minhas costas eu não me importarei. Só lhe peço que não desista de mim, que não desista dos nossos debates porque eu preciso deles.
Se você quiser se reunir com seus amigos adultos e formar um "Grupo de Apoio para Sobreviver à Fúria das Adolescentes", está tudo bem para mim; ou se quiser falar de mim nas minhas costas eu não me importarei. Só lhe peço que não desista de mim, que não desista dos nossos debates porque eu preciso deles.
São esses conflitos que irão me ensinar que a minha sombra não é maior que a minha luz. São esses conflitos que irão me ensinar que os sentimentos negativos não significam o fim de uma relação... Mãe... São esses conflitos que me ensinarão a me ouvir, embora que por meio deles eu possa decepcionar também outras pessoas, além de você.
Mãe... Os confrontos vão acabar como qualquer tempestade, eles vão se acalmar, eu sinto. Eu vou esquecer isso e você também os esquecerá, mas por enquanto eles voltarão e eu vou precisar que você se agarre ainda mais a esta corda bamba. Vou precisar de novo e de novo, durante não sei quanto tempo Mãezinha.
Eu sei que nisso tudo não há nada de satisfatório para você. Eu sei que provavelmente, eu nunca irei lhe agradecer porque eu ainda não reconheço a parte que você tão bem realiza.
Na verdade, provavelmente por tudo isso eu ainda irei te criticar. Para mim, parece que nada do que você faz é o suficiente e, portanto, eu me apoio e ainda confio plenamente na sua capacidade de permanecer neste conflito. Não importa o quanto eu proteste, não importa o quanto eu me aborreça. Não importa o quanto eu me feche em meu silêncio e não lhe diga nenhuma palavra.
Eu lhe imploro, por favor, mãe, segure-se firme na outra extremidade da corda e saiba que você faz o trabalho mais importante que alguém pode fazer por mim neste momento.
Com amor, sua adolescente birrenta.
Esta carta, muitos pais gostariam de recebê-la, mas isso provavelmente nunca vai acontecer. Tais são as terríveis regras do jogo da adolescência. Mas é precisamente isso o que torna esta carta imaginária como útil, e impactante...
Aldenora Bicetre.