Eternidade

BsB, 21/08/07

Ô meu amigo, quanto tempo! Quanta saudade! Parece que foi ontem que lhe escrevi pela última vez, mas se você olhar para o calendário vai perceber que este período representa quase uma eternidade gregoriana.

Por falar em imortalidade li, um dia desses, que para Einstein o tempo não passava de uma ilusão. Veja que coisa maluca. Se isto é verdade por que nos preocupamos tanto com o futuro? Por que vivemos de olho no passado? Por que sofremos tanto para construir o que chamamos de tranqüilidade plena? Por que nos preocupamos tanto com o Juízo Final? Confesso que esta afirmativa me pegou com os pés trocados. Imaginava que estavam prestes a serem consolidados os meus sonhos para uma caminhada tranqüila na velhice. Agora "vejo" que eles não são mais que o agora disfarçado em metáforas metafísicas e ideológicas. Isto me fez lembrar de uma fala da minha avó materna que nunca havia entendido: "quem guarda, guarda para o lobo". Assim, devo concluir que esta conversa de que o amanhã é um novo dia, é uma balela que embalou meus sonhos de criança. Assim, minha idade não passa de uma contagem tola, démodé. Assim, a vida consiste no estar vivo e nada mais que isto. Deve ser por isto que o poeta escreveu: "navegar é preciso; viver não é preciso". Acho que estou ficando neurótico, literalmente. Ou será que estou deixando de ser neurótico, finalmente? Será que o navegar é realmente preciso? Se o tempo é uma ilusão, será que o estar vivo não é algo realmente interessante?

Ô meu ilustre e querido irmão, me faça acreditar nesta teoria e esquecer a estória de que a esperança é a última que morre. Ah, que coisa incrível! Lembrei-me de um detalhe que agora me parece importante, deixei não sei como na primeira gaveta do armário a melhor parte da minha vida na ilusão de que um dia ela fosse encontrada e fundida ao todo de minha amada que a cada instante insiste em oferecer-me abrigo em suas mãos. Sempre sonhei que juntos adquiriríamos asas gigantescas com as quais voaríamos para outros mundos, outros planetas, outras galáxias. Ou quem sabe atravessaríamos o rio como pregava Buda e deixaríamos para trás nossa ignorância e viveríamos como amantes nos jardins floridos do esquecido Nirvana. Este projeto em forma de carta de navegação está arquivado em alguma escrivaninha e o que temos feito é “simplesmente”...viver...

Diante de tudo isto, sou forçado a concluir que estou jogando pela janela do tempo minhas verdadeiras oportunidades. Sou obrigado a concluir que tudo que desejo está sob meus pés e não acima de minha cabeça estabanada.

Vou voando para o correio. Como não sei se chegarei lá ainda hoje, vou deixar registrado: vale a pena viver...

Um grande abraço.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 20/08/2007
Reeditado em 05/12/2022
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