Sorriso

São Paulo, 2017.

"Os cosmos trabalham a favor daqueles que olham as Estrelas"

Quando mais novo, mamãe sempre lia belas histórias de aventuras, com cavaleiros, guerreiros nórdicos, donzelas em perigo e diversos tipos de inimigos, como os assustadores soldados esqueléticos, os lobisomens, vampiros e os incríveis Dragões.

O mais interessante disso tudo é que em todas o famigerado "Era uma Vez" era o partido da oratória, trazendo algo do passado a minha imaginação. Mas nesta pequena história não quero usar esta frase como abertura, pois essa história apenas deu-se início com o que aqui escrevo.

Frio de Outubro.

Quando notei ja era tarde.

Já havia passado do meu local de descida e o sinal para o ônibus parar veio tarde demais. Desgostosamente desci algumas centenas de metros depois de onde eu deveria descer. Ao sentir a brisa do vento tive certeza que aquele dia seria diferente.

Moro numa cidade cinza, magoada e fria. Muitas das vezes penso viver nos mesmos vilarejos que mamãe falava ao Norte do Reino Unido, tantas outras apenas entendia que nada disso era igual ao que grandes trovadores e poetas pensavam enquanto mergulhavam suas penas em tinta fresca.

Penso que eles eram felizes, mesmo sofrendo.

Enquanto caminhava, imaginava as casas mudando seus perfis, um toque Irlandês ali, talvez uma origem Alemã aqui. Pensei o quanto o mundo é grande e como são incríveis as coisas que nele existem. Ainda mais incrível foi o forte reflexo de um raio de Sol que me afugentou o rosto, fazendo-me cobrir os olhos com as mãos. Daquele momento em diante consegui entender a atmosfera, como ela pode prender alguém no chão.

Ao vento.

Imagine só, você abrir a janela do seu quarto e alguns poucos raios de Sol iluminarem as paredes, a luz dançando e seduzindo os objetos, gerando com eles as sombras. Era quente como pôr a mão sobre brasas.

Incrível mencionar que essa sensação partiu de um sorriso. Era como uma flecha viva direcionada a mim e eu não poderia desviar, estava paralisado observando aquela arte tão divina.

Sua pele era como neve, com o aspecto macio como fio de seda ou montanhas de algodão.

Seus olhos, tão reprimidos por conta da luz solar escondiam mistérios não desvendados, como os tesouros dos piratas de minhas histórias.

Naquele momento, enquanto eu observava aquela tão bela sinfonia perfeita, o Criador resolveu encantar-me ainda mais com sua obra.

Soprou o Vento Norte, o mesmo que Ulisses utilizou para chegar a Créta, fazendo seus cabelos que ali notei serem da cor das folhas secas de carvalho, um tom avermelhado. Sua mão, numa visão de câmera lenta ergue-se e corrigiu a posição de uma mexa.

Tudo aconteceu em poucos minutos, mas nos olhos de um mortal pude perceber que as obras do Criador são perfeitas em suas singelas formas.

Depois daquele dia, deixei de ouvir e ler histórias de aventura. O tesouro maior já havia sido encontrado.

Aquele sorriso perdido ao vento...

Ruami De Morais
Enviado por Ruami De Morais em 24/10/2017
Reeditado em 06/05/2018
Código do texto: T6152144
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