"Testemunho"
A história que eu publico neste momento é de conhecimento bastante restrito. É uma história verídica, cujo teor envolve fé, harmonia religiosa, e principalmente, milagre. Talvez eu deveria ter escrito sobre ela muito antes, já que este blog possui aproximadamente oito anos. Mas por motivos de resignação ou quem sabe por escolher a hora certa de publicá-la, só o faço agora. Posso narrá-la com propriedade, pois eu, juntamente com meu pai e minha avó materna, somos os principais coadjuvantes dela. Os protagonistas, são, sem sombra de dúvidas, Nossa Senhora Conceição Aparecida, e seu filho, Jesus Cristo. Eis abaixo, a narrativa:
Pouco tempo depois que nasci, meus pais perceberam que eu possuía um problema de saúde, que envolvia a dificuldade em evacuar. O problema ficou mais evidente, grave e perceptível quando a dieta infantil modificou-se dos laticínios para os primeiros alimentos sólidos. Levado ao pediatra, o mesmo receitou laxantes e recomendou as tais "lavagens intestinais", o que, obviamente, gerava muito sofrimento para uma criança. Estes procedimentos eram o que poderia ser feito de início, até a execução dos exames e o aparecimento do diagnóstico. Nesta época, eu já tinha aproximadamente dois anos de idade.
Na consulta, após abrir os exames, o médico foi bastante sincero. Disse que eu possuía uma "má formação intestinal", fato que praticamente me impedia de evacuar normalmente, como uma criança saudável. Em sua sinceridade, o médico disse aos meus pais: "É preciso que seja feita uma cirurgia, que para uma criança, é bastante arriscada. Mas é preciso arriscar, porque é a única chance dele sobreviver, pois este problema pode ocasionar o comprometimento de outros órgãos e funções do corpo, agravando o problema e..." As reticências falaram por si só. Minha única esperança de vida era uma cirurgia arriscada, o que fez meus pais entrarem em desespero. Saíram do consultório arrasados.
No fim daquele dia, minha mãe diz que meu pai se resignou em algum lugar da casa, e ela mante-se calada em sua preocupação. Após um certo tempo, meu pai reapareceu com lágrimas nos olhos e falando com uma convicção absurda: "O Fernando não vai precisar de cirurgia! Eu fiz uma oração à Nossa Senhora Aparecida, e na mesma hora eu senti uma energia diferente, algo que não consegui explicar". Minha mãe manteve-se contida, esperançosa, mas reticente...
A família do meu pai é predominantemente católica, ao passo que a da minha mãe, é formada por evangélicos. Quando a notícia chegou até minha avó materna, ela também recorreu à sua fé: sendo uma das primeiras frequentadoras da Igreja Presbiteriana Renovada em Presidente Venceslau, prometeu que faria, em todo o dia 12 de outubro, por alguns anos, uma festa para as crianças da igreja.
Passados poucos dias após as manifestações de fé do meu pai e da minha avó, por incrível que pareça, consegui evacuar normalmente. Poderia ser um sinal de melhora ou até mesmo de cura, mas ainda assim, meu pai resolveu voltar ao médico, que recomendou acompanhamento e observação, para evitar otimismo precipitado. Passei enfim, a ter a vida de uma criança normal, e na segunda volta ao médico, ele disse, com todas as letras: "Eu não sei o que dizer. Ele parece curado"
A alegria desmedida tomou conta da minha família. Quando eu completei sete anos, finalmente meu pai pode cumprir a promessa de me levar até ao Santuário Nacional de Aparecida. Durante alguns bons anos, minha avó fez uma festa muito bacana na enorme garagem onde ficava o caminhão do meu avô. Participavam as crianças da Igreja Presbiteriana Renovada, com direito aos cânticos infantis religiosos, bolo e refrigerantes. Por motivos óbvios, eu também participava da festa. Sempre houve harmonia e respeito entre meu pai e minha avó por conta das diferenças religiosas, mas a partir daquele episódio, este respeito mútuo aumentou. Ambos tinham convicção que não foi só a promessa católica ou apenas a promessa evangélica que me salvou. Foi a união das duas promessas, a fé acumulada em Nossa Senhora e Jesus Cristo que permitiu com que hoje, eu conte esta história.
Finalizando, eu creio que tudo que acontece na vida tem um propósito. Não fosse eu ter sentido na pele todo este sofrimento, e baseando-me no meu perfil questionador e desconfiado, provavelmente, eu não acreditasse na fé, em milagres ou divindades. Mas eu não tenho este direito. Posso dizer, sem sombra de dúvidas que este milagre ocorrido no início da minha vida, salvou-me da descrença futura. Sim, hoje eu questiono dogmas, doutrinas, a intolerância religiosa, bem como a interferência das religiões em assuntos que fogem de sua alçada. Mas não questiono a fé, os milagres, nem as divindades. Por conta desta história, sei que existem forças superiores que zelam por nós neste mundo complexo, cheio de desavenças e desilusões. Mas sei que nas horas de desespero, bem como nas horas de agradecimento, a espiritualidade possui enorme relevância. Não por acaso, considero o 12 de outubro como meu segundo aniversário. E foi neste feriado que comemora os 300 anos de aparição de Nossa Senhora nas margens do Rio Paraíba, bem como no Dia das crianças, que finalmente publiquei esta história, dando a ela a merecida importância. Agradeço a Jesus Cristo, Nossa Senhora de Aparecida, bem como ao meu pai Francisco e minha avó, Anízia. Sei que lá do céu, ambos estão felizes em saber da minha singela manifestação em agradecimento...
Presidente Venceslau, 12/10/17
*Luiz Fernando, "O Eldoradense"