Carta aberta ao amor da minha vida;
Nada está sendo como antes.
Nem as ruas, nem os cantos (das ruas e dos pássaros), nem o céu, o sol, o sul e nem o sudeste. Há uma grande neblina embaçando as lentes dos meus óculos e eu não consigo enxergar o que vem pela frente. Quem dera fosse você.
Os relacionamentos acabam, de fato, eu sei, mas os amores talvez não.
Já fazem quase dois meses, mas eu sempre continuei - como antes - a esperar que entres pela porta. As paredes do meu quarto ainda esperam a tua chegada. As árvores da praça ainda esperam tua chegada.
E eu, dentro do quarto, escrevendo sobre as árvores - que esperam tua chegada -, também espero você chegar.
Talvez consumirá todo meu tempo - a espera da tua chegada -, ou talvez chegues mês que vem, numa manhã de domingo.
Essa estranheza de não sabermos o que fazer, quissá nos consumirá por inteiro. A 'descerteza' - antes mais certa do que tudo que há -, pode nos fazer calar e então, quissá - novamente - nos consumirá.
Mas o amor não. Nada consumirá o amor.
Nem as ruas - e seus cantos -, nem os pássaros - e seus cantos - e nem a distância entre sul e sudeste.
Se um dia chegarás eu não sei - embora, como dito, ainda espero tua chegada - e o meu amor é esperto o suficiente pra nunca deixar de esperar.
E nós dois - cada qual do seu jeito, como sempre foi - esperamos por nossa história. Talvez por isso, nunca nos deixemos em paz
- mas o que é estar em paz,-
- se paz só havia quando tínhamos um ao outro? -
O encanto não se foi.
Fomos ao abismo, sim, como dissestes. Mas importunavelmente - ou não -, o amor foi junto conosco. E nenhum abismo é suficientemente escuro, se há o amor para ilumina-lo.
Nós fomos ao abismo, mas estamos sãos e salvos.
Os cantos,
Encantos,
sonhos e prantos,
e... - é duro de dizer -
até meus poemas
ainda esperam por você.