O POÉTICO AMERICANO E O POEMA BRASÍLICO
Teresinka Pereira, querida irmã poeta, brasileira, presidente do International Writers and Artists – IWA, residente em Toledo, Ohio, 43606, USA:
Agradeço a remessa do teu poema "Árvore", no corpo do e-mail datado do último dia 23/08 do ano corrente. Um belo e objetivo exemplar da poesia contemporânea, ao gosto dos americanos. Percebo que estás perfeitamente ajustada ao modo de poetar dos irmãos do norte, bem diferente do nosso, em que o alto patamar da boa poética assenta-se nas figuras de linguagem, especialmente nas metáforas.
“ÁRVORE
A árvore é livre
sem olhar o mundo,
mas o céu a vê
na tempestade,
e o vento que a mortifica.
Eu olho a sombra,
o verdor de suas folhas,
a escultura
de seus galhos,
e penso: aí está
a perfeição
em existência!
Teresinka Pereira, IWA.”.
Aqui no Brasil (e na América Latina), a Poética se perfaz pela linguagem das imagens e Poesia, portanto, minimamente, é a imagem em movimento, que pouco fala e muito sugere, fazendo da farsa irreal, verdade não desnuda.
Tenho lido bastante sobre a moderna poesia dos vates americanos nos últimos três séculos, e o que aponto é predominante: o poema é seco, enxuto, no qual há quase nada de hermetismo, predominantemente prosaicos, curiosamente "ao correr da pena", diriam os nossos escribas mais antigos, quase nada exigindo do pensar para concatenar as ideias... Predomina o sentido DENOTATIVO – característico da prosa neolatina, muito pouco de identidade com o sentido CONOTATIVO das palavras, que é o que caracteriza a Poesia destes territórios imagéticos da nossa América do Sul, tanto em espanhol quanto em português.
Mesmo não sendo versado no idioma inglês, tanto na versão original quanto na vertente americanista, percebo a presença do prosaico até nas versões dos tradutores portugueses e brasileiros. É pena que não domine o idioma comum de Shakespeare ou Walt Whitman, Ezra Pound, T. S. Eliot, ou ainda, Stanley Kanitz, porque gostaria de fruir melhormente o poético dominante no espiritual americano dos primos ricos do norte, povo que tanto admiro e do qual pouco sou sabedor de seus costumes, tradições e usuais concepções do viver, por minha inaptidão e pouco tempo para ainda apreender... Então, devido à incompetência e pouco preparo pessoal, tenho que me contentar com a leitura dos poemas traduzidos, cuidando sempre da qualidade do texto poético.
O underground beatnik e suas sequelas comportamentais (a partir da década de 60 do séc XX) agrada-me em muito. E venho me acostumando com Jack Kerouac, Gregory Corso, Allen Ginsberg e outros. Porém, aprecio muito mais Rimbaud e Baudelaire, talvez devido à proximidade e identidade dos signos franceses e a luminescência do rescaldo enciclopedista.
O humano, em seus alter egos, como quis e fez Pessoa, o português do universo, é o meu fetiche, como bem podes notar...
Mudamo-nos (eu e Andréa, a segunda parceira, há 24 anos) para a praia, onde temos um chalé a 80 metros do mar. Uma casa pequena, mas muito aconchegante... Estamos à tua disposição para te receber e hospedar, à hora em que vieres para este quase sul do mundo. O melhor período é a primavera/verão, em que o clima ajuda em muito... Desejaria que viesses conhecer o astral destas plagas do sul.
Tenho estado muito ocupado com a mudança, com o material de escritório ainda em pacotes e caixas. Assim que me desvencilhar de todos os empecilhos, responderei às tuas agradáveis e sempre preciosas cartas, com anexos muitos especiais. Peço escusas pela demora em contestar. Estou com uma montanha de correspondência e não consigo me ajeitar para responder, devido à bagunça mudancista... Dia desses estaremos juntos. Muito cansaço físico ao final dos dias... Começo a ver TV para lograr entretenimento e logo durmo... Kkkkkkk!
Neste ano saem mais dois livros nossos na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre, a ocorrer de 28/10 a 15 de novembro. Estou, portanto, na azáfama das revisões, em meio a tantas atividades práticas que estou aprendendo – também – a fazer...
Bem, por ora é só, e a vontade de saber novidades é muita.
Por último, vai o metapoema, com sua humilde carga, bem ajustado à brasílica verve sugestional e formato contemporâneo, minimalista.
“A DROGA NUA
Joaquim Moncks
imagens em movimento
pouco fala muito sugere
faz do (ir)real falso
verdade(s) não desnudada(s)
– Do livreto MODERNIDADE LÍQUIDA, 2017.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/6126414“
Com muito apreço e alegria, segue o poético abraço do poetinha JM.
– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/6126455