Ao Damned com Carinho
Pude ver que anda vasculhando meus textos. Me fez lembrar um texto antigo que escrevi. Deve ter procurado muito até achar algum que pudesse fazer alguma crítica.
Sua atitude me preocupou de certa forma, pois de alguma maneira lhe chamei a atenção e até hoje anda procurando alguma forma de interagir comigo novamente.
Pois bem, quem eu sou? Vou falar do que eu não sou. Não me considero um artista obscuro, um talento ainda a ser descoberto ou um gênio ainda não reconhecido pela sociedade. Não. Eu sei de minhas limitações e escrevo por motivos pessoais, psicológicos, preocupações, etc.
Não me considero um candidato a nova revelação da literatura brasileira, nem alguém em que algum dia lembrarão ser um gênio esquecido no anonimato num passado ingrato. Não sou reconhecido e isto não é culpa do mundo cruel, mas por eu realmente não ter nesta área algo que me destaque dos demais.
Aprendi a desprezar as pretensões e o pedantismo. Percebi que não existe um saber e uma cultura superior que não sejam antes um reflexo de relações e hierarquias sociais. Campos constituídos por poder e medo.
Não me interessam grandes coisas ou feitos no mundo. Me interessa dar voz aos que foram silenciados. Entender o silêncio dos que calam as vozes dos mais frágeis neste mundo.
Te dou um conselho muito valioso: viva o mundo real, seus conflitos, suas dores. Perca batalhas, seja humilhado, veja seus inimigos em triunfo, torna a si mesmo um herói ou um guerreiro.
Quando escrevi estes Evangelhos da Terra, eu estava na batalha do real. Meus problemas não eram críticos virtuais, não era não saber o que fazer da vida, não era lamentos pelo mundo não ser como eu queria. Não tinha pretensões nenhuma além de falar o que eu sentia, o que pra mim já era um grande feito.
Faça isto, apanhe, levante, trave suas guerras, encare os seus desafios e depois escreva, escreva... Um dia pense em como agradar as pessoas, pense assim "o que eu posso fazer por elas". Como minha escrita pode tocar estas pessoas.
A dor e angústia por si mesma têm pouco atrativo para as pessoas, a não ser que seja oferecido através delas algo a mais. As pessoas gostam de se sentirem compreendidas. Mas não de forma falsa.
Você já mergulhou nos olhos de alguém triste? Já se encantou com reles mortais? Já viu a solidão que eles carregam? Sabe amar as pessoas da mesma forma que deseja ser amado? Creio que não.
Ofereça algo para as pessoas. Ofereça sem esperar nada. Se contente com o sorriso. Se contente em fazer a alegria surgir onde jorrava tristeza.
Eu entendo que é difícil amar as pessoas. Elas são muitas vezes frias, traiçoeiras e calculistas. Mas se for esperto terá compaixão até mesmo por estas criaturas, sem com isto ser vítima delas - amadureça isto aos poucos... Não são todas assim. Há muitas cuja preocupação maior na vida é o medo da solidão, do abandono e da crueldade - elas dizem isto pelo seu olhar, pelas palavras tímidas ou amarguradas.
Meu caro! São rostos tristes. Pessoas esquecidas pelo mundo, são pessoas quaisquer, que sabem da sua mediocridade, sabem que são só mais umas.
Olhe os porteiros. Olhe as mulheres fora do padrão. Veja a solidão que sentem. Veja como a ignorância humilha e cerceia as pessoas. Fuja do óbvio! Você aprendeu que somente as pessoas bem sucedidas e reconhecidas devem ser admiradas. Você viu uma sombra, um propaganda, um campanha publicitária, um ícone religioso. Você não viu pessoas.
Já viu o desespero atrás do sorriso sarcástico? O medo atrás do deboche? Não?
Enfim, é isto que tenho pra te dizer. Não perca seu tempo comigo. Se tem talento este talento não se mostrará na clausura longe da vida. Leia aqueles "evangelhos" sem buscar estereótipos, surtos de genialidade ou pretensão. Ou não leia e crie seu próprio evangelho.
Não importa ser o autor de uma grande obra, se a grande obra que deveria ser sua vida se encontra sem inspiração. Viva uma vida que mereça uma grande obra, a altura de sua grandeza.
Abraços
Wendel Alves Damasceno