(CARTAS QUE NÃO RECEBI)
(CARTAS QUE NÃO RECEBI)
CAROLINA,
A tarde escoa lenta aqui nesta sala, e ao calor do por do sol que colore o poente, lembro - me de você. Escrevo mensagens que não mando e relembro palavras apenas pensadas sem verbalização - nossa juventude, nossos sonhos recheados de ilusão e amor...
As prateleiras da minha sala estão cobertas de troféus, medalhas, livros, condecorações que reluzem ao sol poente, mas hoje me parecem sem brilho, sem motivação por não as ter repartido com você que sempre esteve presente em minhas lembranças mais ternas.
Nossa infância feliz na fazenda do vovô, nossas estrelas que contávamos no céu, minha partida em busca de um grande ideal e a carreira de médico idealista que buscava sempre mais e mais em prol de humanidade mais humana, saudável e feliz. Sinto-me realizado, mas saudoso de aconchego, carinho, mãos amigas que se cruzem com as minhas, confidências que nunca tive tempo de fazer. O sucesso em terras estranhas não conseguia abafar totalmente as saudades do nosso calor humano de país tropical, e muitas vezes sonhei voltar.
A família está ramificada, cada qual seguindo seu destino e eu, sem a companheira de estudos que sempre me incentivou, hoje vivo só , mas tenho meu íntimo pleno e nunca estou sozinho. A vista um tanto cansada, as mãos ligeiramente trêmulas, já nem preciso de licença para invadir a liberdade de meus amigos e recordar os belos tempos da mocidade. Não pense que estou velho, sinto-me agora bem mais experiente, seguro, mas cheio de saudades...
O sol acaba de desaparecer no poente lilaz, rosa e dourado e leva de mim para você - deusa da minha mocidade - muito carinho e saudades.
Dr. TOLENTINO