Carta de um ex-amigo

Perdi a conta das vezes que eu a ouvi gritar comigo, das vezes que eu ouvi a sua risada e das cusparadas que eu recebi no no rosto enquanto vc falava, das vezes que me peguei olhando os detalhes das tuas curvas e percebendo que do teu cabelo saía um cheiro que me deixava com cara de bobo e das vezes que eu te vi apenas como a garota irritante e mimada a quem eu chamava de amiga.

Perdi a conta das vezes em que desejei que teu abraço fosse mais longo e que a sua presença fosse mais freqüente, mas por orgulho, ou por medo de me apegar ao cheiro do seu cabelo e pela geografia de suas curvas me congelei numa postura fria e indiferente, tentando assim me proteger do inevitável:viver.

Assim cavei a minha cova aos poucos pois a minha indiferença só te dava mais espaço para não se constranger com uma possível atração da minha parte.A nossa amizade me tornou aos seus olhos um ser assexuado a quem vc podia beijar, abraçar e tocar já que como vc afirmava nós éramos como irmãos.

Vi vc em outros braços e ouvi desabafos amorosos torcendo para que o cara não valesse a pena ou fosse tão idiota como eu para te desprezar, tive também algumas mulheres que nem de longe sabiam as coisas que vc sabia ao meu respeito, porém ao menos satisfaziam meu ego, coisa que vc não fazia pois aos teus olhos, por culpa minha éramos irmãos.

Tive vc pertinho tantas vezes, tantas, que numa determinada hora acreditei que realmente tínhamos algo e passei a cobrar de vc aquilo que o meu inconsciente achava que era o correto, pois para ele vc já era minha há tempo.Fiz algumas vezes vc chorar e pensar em desistir de mim.Por alguns dias vc realmente chegou a me deixar e eu fingia para mim mesmo que era feliz até que vc voltasse.

Voltava sim, mas com um sorriso amigável que já não me servia mais, com histórias sobre homens que tentavam te ter , histórias estas que eu não agüentava mais ouvir, por que era óbvio para mim que eles não serviam para vc.Nenhum deles sabia o por que vc ri quando está nervosa e nem sabia o quanto vc fica atraente quando anda distraída achando que ninguém está te olhando.

Quando venci o meu medo, o meu orgulho pude finalmente mapear o teu corpo com as minhas mãos, fazer saírem mais sorrisos da sua boca e reproduzir os meus e os teus gestos no corpo dos nosso filhos.Fiz assim da sua teimosia algo que foi perpetuado pelas mulheres que saíam do teu ventre e eternizei o seu sorriso com várias versões diferentes da mulher que amo há tempos

O medo me fez perder anos, mas hoje deitado ao seu lado me faz valorizar cada instante

Kátia Moraes
Enviado por Kátia Moraes em 17/08/2007
Código do texto: T611417