A minha queda, a minha angústia

Quando a alma está devastada pelos desastres da vida e pelas escolhas errôneas que a mente comete sem prever suas consequências; quando a desolação da angustia solitária se faz companheira e as únicas coisas que lhe restam são escombros de uma construção de uma história chamada vida, este é o momento em que a reclusão é mais necessária do que levantar-se.

Este orgulho egoísta de que nos obriga a pôr-se de pé, é o que impede os homens de fazerem seu real diagnóstico patológico de alma. Estar de pé não garante firmeza de vida, às vezes é bom estar caído. Na queda é que o homem se despe das máscaras, dos personagens, das conveniências e das ações ensaiadas.

Na queda não há vaidade, não há exigências, tampouco uma busca competitiva de se ter razão. É tudo findo, partido e deletado. Não se busca nada para si a não ser a extinção do autor de tais erros, é desejar não existir.

A voz da consciência grita de dentro da alma:

-Erraste com teus filhos?

-Errei, respondo prostrado.

- Errastes com tua família

-Errei.

-Errastes com teus amores

- Por demais.

-Errastes com teu Deus?

- Com quem mais errei.

- Errastes contigo mesmo?

-Errei com tudo que há a minha volta.

Ah! A queda é brutal, é imperdoável e reveladora. Não me estenda a mão para que me levante, ainda não é tempo de deixar o chão, ainda é tempo de chorar quieto e apertado, ainda é tempo de esconder-me debaixo dos lençóis. Não me convide para apreciar sorrisos alheios, ainda me encanto com a visão distorcida que as lágrimas produzem em meus verdes olhos. Não me chame para o passeio do ensolarado dia, a sombra do meu quarto ainda me parece mais seguro. Não me condene por parecer um poeta melancólico e derrotado, apenas não me atraio momentaneamente pelas conquistas e vitórias, este objetivo são daqueles que de mim se ausentaram. Conquistadores e vitoriosos!

Meu anseio é que na escuridão da queda, os versos, as melodias, os traços saiam de minha alma para se eternizarem neste tempo. Que o mundo possa ler, ouvir e olhar a minha queda expressa em arte, pois, até mesmo na mais dolorosa lágrima há uma beleza artística para se apreciar.

Se falhei nas obrigações paterna, amorosas, familiares e religiosas, que ao menos eu possa ser lembrado pela beleza de minha arte, pois, as decepções passam e são esquecidas, mas a arte, essa é eterna.

Samuel Boss
Enviado por Samuel Boss em 10/09/2017
Reeditado em 10/09/2017
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