AINDA SOBRE ONTEM...
Vim aqui fugir ao protocolo e escrever pra você, pois tinha outras coisas em mente e você sabe disso. Aliás, protocolos na minha vida, são o que mais têm sido quebrados desde que começamos a interagir. E a nos relacionar de verdade então, nem se fala... Não vou chover clichês amorosos aqui porque se tem uma coisa que não vivi e nem senti com você ontem, foi isso ou se quer pareceu com isso. Portanto, não seria justo com você, não seria comigo, e nem faria jus a seja lá qual for a definição que se dá, para o que ou quem nos tem permitido viver isso tudo.
Sim, eu poderia agora pormenorizar tudo e você sabe bem do estou falando, apesar de como comentei com você, sobre a dificuldade em tentar centralizar tantas emoções e sensações. Mas, quero falar de ontem... Eu me preparei e me produzi como o de costume para algo, que se tivesse saído da forma como eu pensei que seria, teria sido imperfeito. Foi tudo tão perfeito, de uma forma que eu não sei explicar bem, mesmo sendo fora do meu padrão de perfeição. E essa é só mais uma das provas que a vida veio através de você, quebrar os meus parâmetros, impressões gravadas em mim sobre todos os meus “ontens” antes de você.
O interessante de tudo é que todos os elementos que o meu ser precisa para se reenergizar estavam ali, e eu à princípio (mesmo sendo sabedora disso), preocupada em não suar... A ideia de me sentir viva de uma forma como não estou acostumada, quase não me permitiu deliciar com o vento que bagunçava os meus cabelos (outro fator antes para mim desagradável) e sentir como abraçava o meu corpo toda vez que levantava o meu vestido.
Ainda bem que a “minha ficha” caiu a tempo de olhar tudo ao redor, e não só como o de costume visualizar, mas parar de verdade e sorver a beleza de todo aquele cenário lindo, maravilhoso e que só se fez único pelo fato de você estar ali, presente comigo. E também não posso deixar de mencionar a minha “estranheza” em relação a forma como percebia e sentia a sua presença. Porque eu não te percebia só ao meu lado, mas era como cada passo que dávamos de mãos entrelaçadas ou não, de alguma maneira e eu não sei como descrever bem, me sentia uma com você. E essa estranheza advém justamente do fato de conseguir percebê-lo não só ao meu lado, mas como se tivesse tomando todo o espaço de fora ao mesmo tempo em que também conseguia me ocupar o de dentro. E isso não acontecia porque eu queria ou não que assim fosse, mas sim pelo fato de não conseguir te perceber de uma forma diferente desta. Aliás, essa sensação constante que tenho com você de que tudo é primeiro e único, deixa impresso na minha alma uma forte noção do que é infinito.
Se a parte de sentarmos na grama e você ler poesias pra mim tivesse acontecido, você teria me jogado para dentro de um filme... Nunca ninguém fez algo se quer parecido com essa cena comigo. E se eu agora aqui enveredar por este caminho, e resolver escrever sobre tudo oque você me fez viver e sentir, e que eu não senti com mais ninguém, apesar de ser verdadeiro, eu estaria fugindo à linha que me propus no início desta carta de não chover clichês amorosos.
É eu sei, esta carta não ficou uma “melação”, mas acho que até um pouco mais “espiritualizada” (no sentido a nível de alma), e acho que é justamente porque é o nível que fui levada, quando tudo em nossos corpos ontem foi implodido de uma forma arrebatadora.
Se eu estou escrevendo com a razão dentro de uma lógica que estabeleci como você sempre diz que costumo fazer, acho até que talvez sim... Mas, só que agora de uma forma até consciente... Mas por quê? Porque os filmes sempre acabam. Mas se eu demonstrar medo aqui, isso também será clichê. Então, vou preferir o novo e deixar ecoar em minha mente, a parte em que o ouvir dizer que nossa boca fez amor com os lábios, e que todo o restante do seu corpo sentiu inveja...
(...)
Anne
P.S: E como bem disse Renato Russo em sua canção (Quase Sem Querer): “INFINITO, é realmente um dos ‘deuses’ mais lindos”. Ah, e eu também esqueci de dizer que você me jogou dentro de um filme sim, mas quando puxou a cadeira para eu tomar assento, e quase caí na minha própria armadilha de sentar na outra. Quer saber? Você não existe! Se isso é clichê? Que seja... o importante é que deu vontade dizer e também de voltar aqui e dizer que eu te amo, João!!!