Sociedade permissiva
SOCIEDADE PERMISSIVA
(carta para o Jornal do Brasil escrita em 29 de dezembro de 1990)
O que está estragando o mundo moderno é a chamada “sociedade permissiva”. Contra essa praga — personificada na polícia de Nova Iorque — lutou o policial Serpico nas ´decadas de 60 e 70, e acabou abandonando a profissão, por não compactuar com um sistema corrupto.
A sociedade permissiva é uma estranha mentalidade, pela qual as autoridades constituídas, dos governantes aos policiais, e as pessoas em geral, tendem a considerar o errado como certo, o vício como virtude, a tolerar o crime, a corrupção e a obscenidade, como se essas fossem as normas ideais de vida. A sociedade permissiva, por tolerar a libertinagem, legaliza o aborto; por tolerar a corrupção, persegue e pune os honestos; por condescender com os criminosos, transforma vítima em réu. É o que ocorre quando mulheres violentadas ainda se vêem sob suspeita de terem provocado as agressões. E assim os estupradores ainda posam como vítimas de sedução.
A sociedade permissiva começa no recesso dos lares, quando os pais deixam que as crianças assistam televisão horas a fio, sem nenhum critério, envenenando-se com imoralidades, violências, desenhos de monstros, toda a parafernália alienante do áudio-visual. Numa escala mais abrangente a sociedade permissiva tolera o tóxico, o tráfico de influências, a fraude, o crime econômico, a corrupção dos políticos, a destruição da natureza.
Todas as pessoas que ainda possuem sentimentos de honradez devem fazer o que estiver ao seu alcance contra essa hipnose coletiva, que faz do século XX a verdadeira Idade das Trevas.
NOTA: ao que parece esta carta enviada na época para o JB do Rio de Janeiro por correio postal (não existia ainda a internet) não chegou a ser publicada. Naquele tempo o Jornal do Brasil era em papel, saía nas bancas (os tempos mudaram e muitos jornais de papel acabaram ou, como no caso do JB, passaram inteiramente para o ambiente virtual).