Carta do meu testamento
O que amo na escrita é sua atemporalidade, torna-se eterna, pois rompe o tempo e as eras. Seria displicente de minha parte não imaginar minha alma abandonar o corpo e se desmaterializar neste mundo. A minha arte ficará, mas o físico se dissipará em pó, assim, como qualquer pobre homem mortal.
Se debruçar sobre a despedida, a morte e a partida é algo que os homens fogem. Fogem por acreditar que de certa forma a morte está tão longe quanto a eternidade, tão distante que nem mesmo as tragédias deste mundo são capazes de alcançá-las.
Mas a realidade é que todos partiremos. Eu partirei, e me parece que breve.
Não quero gerar discórdia entre os meus para decidir sobre obviedades daquilo que deixarei. Afinal, a minha única herança será a arte. Jamais me entreguei a ganância de ao menos comprar um pedaço de chão, sempre soube que o chão ficaria. Por isso, me esforcei e me entreguei a produzir arte, impressões da minha eterna e complicada alma.
Canções, poesias, desenhos, pensamentos, composições, crônicas, textos e vídeos estão entre as formas eu usei para expressar os sentimentos da alma. Creio que elas serão eternas.
De certo que meus filhos conhecem uma parte daquilo que fui em vida, uma fração, um pedaço, mas não o todo. Por isso, acredito que garimpar minha arte por onde passei será uma atividade um tanto quanto surpreendente. Será peças de um quebra-cabeça formando o caráter daquele que foi muitas vezes ausente e distante.
Gostaria muito que os meus textos, desde as crônicas, artigos, poesias, pensamentos e os rascunhos de meus livros, ficassem com a minha filha primogênita, Joyce do Carmo. Sei que ela terá condições intelectuais de catalogar, separar, colecionar o que for bom e quem sabe publicar. Mas peço que todos os escritos possam ser copiados e distribuídos aos demais irmãos.
Ao Hector, gostaria de deixar todo meu acervo gráfico, meus desenhos, minhas produções no mundo publicitário, meus rabiscos, meus projetos jornalísticos, meus vídeos de humor, minha obra como homem de imprensa (rádio, TV, internet e impresso). Sei que com a ajuda da tecnologia, meu eterno “crianço” saberá formar um excelente portfólio profissional de seu pai- que sempre usou o humor para informar.
Para minha princesa Sofia, cópia de minha alma e questionadora do meu eu, deixarei toda obra relacionada a música. Cada letra rabiscada nos cadernos, papeis e agendas. Todas as cações gravadas espalhadas nas redes sociais, no computador, na memória de amigos, na lembrança de parceiros. Procure todos que já passaram pela minha vida, apresente as letras que encontrar e busque sua melodia.
Quero que minha pequena também fique responsável pelos meus instrumentos musicais, principalmente o meu violão usado para compor. Pois creio, que nele, ela fará preciosas canções. Caso haja comum interesse em dividir os instrumentos, assim o faça. Porém, o violão é caso definido.
Quanto minhas canções cristãs, minhas mensagens, minhas pregações, que minha família possa espalhar ao vento e ganhar o mundo, pois de graça recebei e de graça quero entregar.
Quero que todos amem intensamente, façam a diferença e vivam aquilo que sua alma deseja ser.
PS.: Odeio Dia dos Pais, jamais se entristeçam nesta data, ela sempre foi pra mim uma inimiga. Façam festa!
Do poeta incompreendido, Samuel Boss