PARA OS PETISTAS LEREM ANTES DE DORMIR
Caro Faria,
Respondo ao seu E-mail, com o título acima, item por item, ainda antes de dormir:
01) O PT não chegaria ao poder sozinho: juntou-se em 2002 ao então PL do empresário José de Alencar (que representava o poder econômico). Dois extremos unidos. Com certeza, um sob o jugo do "ou dá, ou desce".
Logo depois das eleições, o PL mudou de sigla.
02) Nenhum partido brasileiro conseguirá, sozinho, mudar um sistema político que vigora há mais de um século, salvo se por meio de uma ditadura e com derramamento de sangue.
03) É bem verdade, a última das ditaduras durou 21 anos, porém comprometida com um perverso sistema aristocrático (baseado na propriedade e na hereditariedade). Foram 21 anos de tranquilidade, exatamente para "os que têm". "Os que não têm", semi-escravos, figuravam, vergonhosamente, nas estatísticas da miséria divulgadas pela ONU/FAO.
04) Aos trancos e barrancos, lutou-se, pelo menos durante treze anos, por uma mudança nesse panorama da fome.
05) Lamento, mas o Brasil já está de volta a essas tristes estatísticas, que, risivelmente, o governo atual atribui à negligência do governo anterior.
Sempre atribuirá. Durante pelo menos vinte anos, a cantiga será esta...
06) Os supersalários não baixam, os auxílios excessivos e desnecessários a políticos e magistrados, assim como as reformas que aí estão, nos garantem um progressivo trabalho de exclusão social.
07) Não podemos comparar o Brasil com as grandes economias americanas ou europeias. É importante saber que nossos problemas sociais decorrem principalmente de uma Abolição da Escravatura que aqui não aconteceu:
- onde ficaram os nossos escravos após a Abolição?
- que condições foram oferecidas aos nossos escravos para que fossem vistos como ex-escravos?...
(Sobre o assunto, ouso recomendar a leitura do livro “Escravidão e capitalismo histórico no século XIX”, de Rafael Marques e Ricardo Salles – Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro - 2016).
08) Cito um exemplo de Abolição da Escravatura que não tivemos:
Em meio à guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861/1865) - em que 11 estados aristocratas do Sul, que defendiam o crescimento através da utilização de mão de obra escrava, lutavam contra os 13 estados do Norte, que asseguravam o crescimento através da industrialização, utilizando/aproveitando a mão de obra imigrante -, Abraão Lincoln, o presidente que foi lenhador, aboliu a escravatura decretando que os grandes proprietários (aristocratas) indenizassem os seus escravos com TERRA, GADO e NUMERÁRIO.
Graças a essa medida, o escravo, no dia seguinte, passou a ser reconhecido como cidadão norte-americano.
Tristemente, essa medida despertou o ódio. Em 1866 nasceu a ku-klux-klan com o objetivo de praticar terrorismo contra esse estranho tipo de cidadão norte-americano.
09) No Brasil, somente 126 anos depois da abolição é que se estendeu a obrigação de contrato de trabalho para empregados domésticos. Isso não foi, e nunca será, assimilado pelos escravistas como modernização na relação capital/trabalho. Pelo contrário, despertou também o ódio, conforme se flagrou estampado nas passeatas pelo impeachment: “Minha mãe não pode mais ter uma empregada”...
Para a aristocracia, modernização de verdade é o Contrato de Trabalho Intermitente, que aí está.
10) Praticamente, esse modelo de aristocracia desapareceu nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil permaneceu e cresceu. Nascemos com ele, convivemos com ele, intocável e retroativo quando necessário. Razão de nosso distanciamento e da nossa eterna pobreza.
Como e quando podemos nos comparar aos países que de fato cresceram?
Atenção!
Cresceram sem os problemas sociais seculares que nos atormentam.
11) Por favor, não estou aqui defendendo pessoa A ou pessoa B, candidato X ou candidato Y, mas uma volta imediata a um modelo de inclusão social. Se não acontecer, nunca sairemos desse fosso cada vez mais profundo, que salva “os que têm” e suga “os que nada têm”.
12) Posso chutar, meu caro Faria?
Sei que não vou errar:
“Tão logo o Contrato de Trabalho Intermitente esteja em vigor, o número de desempregados no Brasil cairá, assustadoramente, de quatorze milhões para zero”.
O indivíduo estará sem trabalho e sem grana, mas terá em mãos um contrato de trabalho...
Estatisticamente, não será computado como desempregado.
Isso é real?
13) Detesto a ku-klux-klan.
Grande abraço
Caro Faria,
Respondo ao seu E-mail, com o título acima, item por item, ainda antes de dormir:
01) O PT não chegaria ao poder sozinho: juntou-se em 2002 ao então PL do empresário José de Alencar (que representava o poder econômico). Dois extremos unidos. Com certeza, um sob o jugo do "ou dá, ou desce".
Logo depois das eleições, o PL mudou de sigla.
02) Nenhum partido brasileiro conseguirá, sozinho, mudar um sistema político que vigora há mais de um século, salvo se por meio de uma ditadura e com derramamento de sangue.
03) É bem verdade, a última das ditaduras durou 21 anos, porém comprometida com um perverso sistema aristocrático (baseado na propriedade e na hereditariedade). Foram 21 anos de tranquilidade, exatamente para "os que têm". "Os que não têm", semi-escravos, figuravam, vergonhosamente, nas estatísticas da miséria divulgadas pela ONU/FAO.
04) Aos trancos e barrancos, lutou-se, pelo menos durante treze anos, por uma mudança nesse panorama da fome.
05) Lamento, mas o Brasil já está de volta a essas tristes estatísticas, que, risivelmente, o governo atual atribui à negligência do governo anterior.
Sempre atribuirá. Durante pelo menos vinte anos, a cantiga será esta...
06) Os supersalários não baixam, os auxílios excessivos e desnecessários a políticos e magistrados, assim como as reformas que aí estão, nos garantem um progressivo trabalho de exclusão social.
07) Não podemos comparar o Brasil com as grandes economias americanas ou europeias. É importante saber que nossos problemas sociais decorrem principalmente de uma Abolição da Escravatura que aqui não aconteceu:
- onde ficaram os nossos escravos após a Abolição?
- que condições foram oferecidas aos nossos escravos para que fossem vistos como ex-escravos?...
(Sobre o assunto, ouso recomendar a leitura do livro “Escravidão e capitalismo histórico no século XIX”, de Rafael Marques e Ricardo Salles – Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro - 2016).
08) Cito um exemplo de Abolição da Escravatura que não tivemos:
Em meio à guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861/1865) - em que 11 estados aristocratas do Sul, que defendiam o crescimento através da utilização de mão de obra escrava, lutavam contra os 13 estados do Norte, que asseguravam o crescimento através da industrialização, utilizando/aproveitando a mão de obra imigrante -, Abraão Lincoln, o presidente que foi lenhador, aboliu a escravatura decretando que os grandes proprietários (aristocratas) indenizassem os seus escravos com TERRA, GADO e NUMERÁRIO.
Graças a essa medida, o escravo, no dia seguinte, passou a ser reconhecido como cidadão norte-americano.
Tristemente, essa medida despertou o ódio. Em 1866 nasceu a ku-klux-klan com o objetivo de praticar terrorismo contra esse estranho tipo de cidadão norte-americano.
09) No Brasil, somente 126 anos depois da abolição é que se estendeu a obrigação de contrato de trabalho para empregados domésticos. Isso não foi, e nunca será, assimilado pelos escravistas como modernização na relação capital/trabalho. Pelo contrário, despertou também o ódio, conforme se flagrou estampado nas passeatas pelo impeachment: “Minha mãe não pode mais ter uma empregada”...
Para a aristocracia, modernização de verdade é o Contrato de Trabalho Intermitente, que aí está.
10) Praticamente, esse modelo de aristocracia desapareceu nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil permaneceu e cresceu. Nascemos com ele, convivemos com ele, intocável e retroativo quando necessário. Razão de nosso distanciamento e da nossa eterna pobreza.
Como e quando podemos nos comparar aos países que de fato cresceram?
Atenção!
Cresceram sem os problemas sociais seculares que nos atormentam.
11) Por favor, não estou aqui defendendo pessoa A ou pessoa B, candidato X ou candidato Y, mas uma volta imediata a um modelo de inclusão social. Se não acontecer, nunca sairemos desse fosso cada vez mais profundo, que salva “os que têm” e suga “os que nada têm”.
12) Posso chutar, meu caro Faria?
Sei que não vou errar:
“Tão logo o Contrato de Trabalho Intermitente esteja em vigor, o número de desempregados no Brasil cairá, assustadoramente, de quatorze milhões para zero”.
O indivíduo estará sem trabalho e sem grana, mas terá em mãos um contrato de trabalho...
Estatisticamente, não será computado como desempregado.
Isso é real?
13) Detesto a ku-klux-klan.
Grande abraço