Uma carta ao meu avô
Como é difícil colocar em palavras aquilo que estamos sentindo, a dor, o vazio no peito não há como descrever. Difícil acreditar que o senhor se foi, voltar a sua casa e não vê-lo mais caminhando com seus passos mansos, ouvir sua voz cansada nos abençoando.
Tudo isso aconteceu rápido demais. Primeiro, a surdez, logo depois Alzheimer e por fim o AVC. O senhor resistiu até o fim, do jeito que pôde, como o homem forte e valente que sempre foi.
Confesso, fui um pouco egoísta por não querer sua partida, foi tão dolorido vê-lo naquela situação. Não esquecerei quando disse em seu ouvido: Vô, eu te amo estamos aqui lhe esperando pra ir pra casa e uma lágrima caiu dos seus olhos.
Ainda não consigo processar o ocorrido, mesmo sabendo que cedo ou tarde iria acontecer, mas ninguém está preparado para lidar com a perda de quem amamos. Na verdade, eu acreditava que iria sair daquela cama do hospital, eu acreditava que chegaria aos 100 anos, esse era o nosso desejo. Mas, os planos de Deus eram outros, ele sabe o que faz.
É como dizem: Ele está bem agora, já não sofre mais! E isso é o que me conforta, porque eu realmente acredito que está em paz. E todos nós que ficamos, ganhamos mais um anjo no céu. Só que conhecemos bem o rosto desse anjo que de agora em diante também irá nos proteger.
Ah, e sobre a vovó! Ela está melhorando pode ficar tranquilo que vamos cuidar bem dela pro senhor.
Nesse momento um trecho da música de Nelson Gonçalves faz todo sentido pra mim:
“Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim.
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim.”
Em nome de nossa família agradeço por tudo que nos ensinou e pelo homem honrado que foi, muito obrigada por ter sido também o pai de seus netos.
Te amaremos para sempre!