A Mulher de verde.
«Peguei em meu caderno para as mãos, na minha caneta de tinta azul e dirigi-me para o meu jardim: António Borges. Vou esteirar-me em seus belos campos e escrever aos pássaros que cá habitam há muito.»
Tudo o que posso observar são simples factos e coisas, que poderão ser fúteis a vertos humanos, que torna a Natureza tão pura e singela: as plantas, as suas enormes àrvores, os seus pequenos caminhos de acesso, as suas águas, os seus pequenitos passarinhos e algumas belezas rochosas. É nesta Natureza pura que me deito e ouço o chilrear de alguns pássaros. Como é bom ouvi-los! Seriam capazes de compor uma melodia. Não são os humanos que são génios: estes também o são. Eu, que vinha a caminhar, destroci o seu cantar. Olharam logo para mim como se fosse um inimigo. De facto, têm razão. Eu, sendo humano, pertenço à raça humana, infelizmente. Daria toda esta Natureza a eles. Folgo-me em vê-los andar e a brincar. Não pode haver nada de tão puro. Os passos humanos são uma aberração para eles. Mas nada lhes pertence porque o Homem abraça tudo por egoísmo, vaidade e egocentrismo como se tudo fosse posse deste. Mas nunca poderão roubar a liberdade a estes pobres pássaros, pois não têm que cumprir a lei da raça humana.
E estas pequenas folhas?! Vejo-as caídas aqui neste límpido lago. Este não as pode esquecer porque estas deixaram uma marca: o preço das suas vidas. Digamos que é uma vida semelhante à humana: nasceram, tiveram dias de maior legria, outros não e agora morrem. Tudo acaba, mas termina com uma marca. Assim como alguns homens deixam a sua glória neste mundo, estas folhas também deixam a coisa mais importante: a simplicidade. Estas, digamos, são mais inteligentes que o Homem. Para quê um tempo de glória se a glória termina aqui?! Insensatos. Tornam-se grandes para serem pequenos e por vezes esquecidos. Este lugar nunca esquecerá quem aqui nasceu. É aqui o próprio jazigo da Natureza e não há nada mais puro que Ela.
Gostaria de não ser deste tempo, deste mundo. Assim como muitas àrvores e pássaros não gostariam de ter pertencido a certos tempos da história humana: tempos de guerra, lutas, ódios e mais ódios (no qual ainda permanece...). Mas tiveram que sujeitar-se à vida...