As chaves do coração.



Enzo, carissimo amore mio,


Gostaria de começar esta carta de maneira diferente, mas hoje eu não sou senhora de mim.
Hoje eu perdi o caminho que me leva ao teu coração.
Estou perdida no limbo.
Não tenho segurança ou certeza de nada.
Não tenho mais forças, uma grande dor me sufoca.

Enzo querido. És capaz de perdoar-me? De perdoar a ignorância de uma mulher estrangeira, que sente, mas não sabe expressar de maneira poética o próprio pensamento?

Eu te entrego a chave do meu coração, entra nele e decifra-me.
Vês um vazio ao lado da veia aorta? Talvez encontres ali as respostas que o teu coração deseja.

Encontrarás a desconfiança, a tristeza, a desilusão e até mesmo a humilhação. Tudo isto eu vivi. A diferença é que nenhum desses sentimentos menores foi capaz de envenenar-me a alma. Repares, eles são apenas cicatrizes, mas permanecem ali como testemunhas do que sofri.

Vês esta parte sã e vermelha onde o sangue flui continuamente? É a parte viva de mim. Nesta parte encontrarás a doçura, os meus sonhos escondidos, o desejo de viver, de amar, a amizade. Encontrarás a cúmplice, a amante, a eterna esposa.

Aceite o meu caminho. Por ele te portarei às nuvens misteriosas, onde escondo um castelo construído por mim. Queres fazer este caminho comigo?

Eu sei, tu deves estar dormindo neste momento. Mas deixa-me levar-te comigo. Estou pronta para ser descoberta.

Diga-me qual caminho devo tomar para encontrar de novo o teu coração. Por favor, abrace-me. Eu estou sempre contigo. Ti amo.

Venha, deite-se sobre este leito de nuvens, deixes que eu te ame. Ouves a música? É um coro de anjos, eles saúdam este encontro entre dois seres desesperadamente desejosos um do outro. Entrego-me a ti Enzo.

Sogni d’oro, amore mio. Buona notte!

Chiara (Clara)



Carta contida no meu romance “Um amor siciliano”.
(Hull de La Fuente)

Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 11/08/2007
Código do texto: T603319
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