Será que estou inteiro?
Olá meu amor,
Há quanto tempo eu não te encontro? Tem horas em que fico no parapeito de casa, olhando para lua e me perguntando qual foi a última vez em que te disse “te amo”? Na verdade, todos os dias eu mando um recadinho bem amoroso para ti na tela de um celular. É uma forma que encontro para matar a nossa distância. Apesar de estar vivendo o verdadeiro e sei o quanto me esforço para me entregar, eu tenho dúvidas se realmente estou inteiro. Não por uma questão de falsidade ou falta de disponibilidade, mas por ainda sentir meu corpo com machucados abertos. Essa responsabilidade não tua, mas unicamente minha e morre comigo.
Quando eu te conheci naquele sinuoso parque do centro da cidade e nos deitamos naquele cobertor verde que nos permitia encontrar obras de arte tão vivas e verdadeiras. Eu me sentia entregue. Eu estava feliz por compartilhar algo que, talvez, eu não acreditasse que pudesse existir dentro do meu coração. Não existem mais portas entre nós. De uma certa forma, eu devo te agradecer por conseguir me sentir assim. Tão disponível novamente. Não somente por ti, mas por mim mesmo. Acho que merecia e uma hora sabia que iria chegar isso.
Eu estou amando esse nosso jeito. Em que vivemos em postos diferentes. Mantemos a nossa independência e foi assim que gostamos um do outro, não é verdade? A questão está ligada dessa forma, apesar dos meus recados e surpresas, eu sinto que não estou inteiro. Não sei se é alguma coisa passageira; ou se estou pensando em algo demais, pois estou sempre em atividade cerebral; ou eu ainda estou me sentindo tão violentado que ainda sinto as fortes marcadas no meu corpo.
Tu nem imaginas as coisas que passei. Na verdade, acho justo que não saibas. Por mais que tenhamos que compartilhar as coisas, acredito que existem questões que só eu posso tratar, assim como há questões que só tu podes cuidar. Eu estou lutando para que essa violência que passei não atrapalhe o meu desejo de viver. Prometo na minha cama, nas altas madrugadas de dormi que isso não nos afetará.
Talvez seja apenas um encontro passageiro. Enquanto escrevo isso pra ti e ficas morrendo sem saber de tudo que passas, eu fico tento vários encontros com as palavras. É algo muito meu ter esses momentos. Tento achar uma fórmula de desabafar sem que tu saibas por todas as minhas linhas o que a minha alma sente. É desabafo a um ser que minha vista não consegue encontrar. É uma visão turva que tenho de ti. Não sei mais por onde expressar. Espero que entendas.
Com carinho.
Eu.