A LUTA COTIDIANA
Recebo, com apreço e alegria, a interlocução de um leitor do Recanto das Letras. Agrada-me sua sintética manifestação. E passo a responder.
“03/06/2017 21:26 - Klaus Mendes
E de mistério em mistério caminhamos para o mistério final. Abraços e bom domingo.
Para o texto: VIVENCIANDO O MISTÉRIO (T6017543)”.
Agradeço, honrado e penhorado, a tua atenção para com a minha publicação. Gostaste do texto, então? Porque, em verdade, não te manifestaste sobre o mérito do escrito, e sim, fizeste um intertexto. O que é um claro sinal de que a tua lucidez analítica recebeu bem o conteúdo da proposta intelectiva e estética constante na forma e fundo da lavratura posta a público lida pela tua benesse coautoral. Em Poesia, especialmente, é o poeta-leitor quem dá vida ao poema. Sem este, a peça não adquire vida, e vem ao mundo fático tal uma criança natimorta. Aliás, este conceitual, é o que, a meu ver, melhor se ajusta para explicar o mistério da criação literária em todas as suas expressões. Trata-se da Teoria da Recepção, trazida à tona por Jauss na década de 60 do séc. XX, que é atualmente um cânone literário quanto ao processo. Mas é na Poética que se pode compreender melhor o fenômeno da Intuição, através da momentânea centelha da criação, em Poética: a INSPIRAÇÃO. Completa-se o ciclo criacional com a TRANSPIRAÇÃO, o que importa, na prática, na revisão quanto à forma e ao conteúdo da garatuja autêntica, original, momentânea. No entanto, a maioria dos poetas não atenta para este processo e não realiza o segundo momento de criação, ficando somente no processo intuitivo da inspiração. A peça poética, por falta deste exercício, nasce esteticamente incompleta ou defeituosa até sob o aspecto vocabular ou gramatical, exceto quando o autor é bem dotado de conhecimentos estéticos e alta genialidade. Enfim, a estes não se aplicam os conceitos operacionais que ora trago a lume, porque estes bem-dotados tudo podem, e por suas cabeças a genialidade derrama conceitos estéticos em que a beleza e a sabedoria são magistrais pedras-de-toque. Como sou um escritor comum, bem dentro dos conceitos da normalidade mediana, de prática visando intimidade com a palavra, o que exsurge é fruto do conhecimento duramente adquirido, e, em alguns momentos, de algum talento. Tenho de admitir, com respeito e vênia, que o Absoluto me aconselha a briga cotidiana com o Verbo e as palavras adequadas que o traduzem, como bafejo do Mistério. Aliás, é este o único que realmente produz e lega a Poesia como realidade fenomênica. Aos gênios, como Fernando Pessoa, o português do universo, só resta a nós – os da planície – admirar e louvar o talento exercitado através da verve erudita e maestria poética. Espero que novas publicações venham a merecer tua leitura e manifestação em comentários sobre formato e conteúdo. Creio que desta maneira poderemos nos conhecer melhor e aprimorar nossos escritos. Estarei sempre às tuas ordens.
– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2014/17.
http://www.recantodasletras.com.br/cartas/6018061