Carta à mãe
Olá, mãe, tá todo mundo postando mensagens para este dia especial, então, lembrei que nunca mais conversamos, daí que resolvi te escrever umas linhas.
Lembro que você foi embora sem tempo de me deixar o seu novo endereço, mas não se preocupe com isso, já tenho algumas pistas. Mirando bem o curso das estrelas em noites de lua cheia, percebo algumas luzes bem pequenas que aparecem lá no céu e que me dão a impressão de estarem contrariando a grandiosidade da hierarquia celeste. Uma delas me fez lembrar de você, da sua rebeldia, das suas tiradas...
Do lado de cá, no mundo da expiação, as coisas continuam... como vou dizer... coisadas. É isso mesmo, você me entende; não vale a pena chover no molhado, aliás, você mesma vivia repetindo que “verdadeiro já virou peba; peba já virou o diabo! ”. Vão passando aqui pra gente alguns filmes de terror, algumas sessões de tortura mental... tem até o mágico – mor, que ensaia pantomimas e é bastante hábil com as mãos... é uma festa! — você diria.
No mês passado, eu fiz aquele nosso carneiro com alecrim, mas não ficou tão gostoso como das outras vezes; acho que exagerei no azeite ou, talvez, não existam mais carneiros bons, nunca se sabe, né!
Fica em paz aí que qualquer hora dessas eu apareço, vou também sem avisar. Por enquanto, estou vivendo como o Caetano “rompendo a manhã da luz em fúria a arder, dando gargalhadas e dentadas na maçã da luxúria, pois, se ninguém tem dó, ninguém entende nada, o grande escândalo sou eu aqui, só. ”
Benção, mãe!