Nicolas
Queria falar sobre a Bolívia. A terra mãe. Terra onde minha mãe no distante ano de 1952. Mas minha mãe e a Bolívia quanto mais velhos são, ficam tão bons quanto um vinho francês curtido e armazenado em um barril de carvalho.
Existem muitos mundos na Bolívia. A Bolívia das terras altas formado pelo altiplano andino e pela cordilheira dos Andes. Os Andes bolivianos são o Tibete da América do Sul.
No altiplano convivem em harmonia uma plateia de indígenas e montanhas. Lá estão as cidades de La Paz, El Alto, Oruro e Potosi. La Paz é a capital, sede dos poderes executivo e legislativo enquanto Sucre é a outra capital, sede do Poder Judiciário. Sucre e La Paz brigam para ser a capital plena boliviana. Nos muros das ruas de La Paz é comum encontrarmos a frase: “La sede no se mueve”. El Alto é a periferia de La Paz. A cidade dormitório que trabalha em La Paz.
O que atrai turisticamente em La Paz é o Parque de La Luna, o vigilante Ilimani com seus mais de cinco mil metros de altitude; o Chacaltaya e o Illampu, montanhas de pedra gigantesca cobertas com blocos de neve. O Lago Titicaca de água salgada foi erguido pela imensidão do tempo geológico. O Lago Titicaca é um mar de água assistido por uma plateia de mares de montanhas. As ilhas do Sol e da Lua embelezam ainda mais o sagrado e salgado Lago Titicaca, mar de altura levantado pela natureza.
Oruro e Potosi são cidades que cresceram e se desenvolveram na mineração. Potosi era uma montanha de prata nos tempos de colonização. Prata que transformou Potosi em uma das maiores cidades do mundo na época enriquecendo a Espanha e sacrificando a vida de muitos indígenas forçados a trabalhar para o colonizador espanhol pelo regime das encomiendas. Com a decadência da prata decaiu junto a oligarquia da prata.
Surgiu assim um novo recurso econômico. O estanho. O estanho é o famoso “metal del diablo”. Metal que formou a oligarquia do estanho composta por três famílias (Patiõ, Hotschild e Aramayo) que monopolizavam a produção e o comércio do estanho boliviano. O estanho é o metal do diabo porque enriqueceu uma oligarquia e matou e empobreceu muitos mineiros bolivianos.
A oligarquia do estanho entrou em decadência sendo substituída pela oligarquia do MNR (Movimiento Nacionalista Revolucionario) liderada por Victor Paz Estensorro, um “progressista”na época.
A Revolução Boliviana de 1952 liderada por Paz Estensorro promoveu a nacionalização das minas de estanho criando a Corporação Mineira Boliviano para cooptar politicamente os mineiros. O MNR fez a “reforma agrária” no altiplano andino distribuindo minifúndios que mal dava para praticar a agricultura de subsistência. A terra distribuída aos bolivianos era pequena em tamanho e tinha solo de má qualidade o que a tornava improdutiva para plantar. Os beneficiários da “reforma agrária” se viram obrigados a vender suas terras e a migrar e inchar os centros urbanos. A reforma agrária boliviana foi realizada no altiplano para aliviar as pressões por terras no Lhanos de Santa Cruz, onde há as melhores terras para plantar no país. A reforma agrária dos Lhanos de Santa Cruz foi feita em Santa Cruz. Enquanto a reforma agrária foi feita no altiplano, em Santa Cruz os EUA deram capital para a proliferação das grandes fazendas produtoras de monoculturas voltadas à exportação. O incentivo ao latifúndio e a monocultura em Santa Cruz contribuiu para a formação de uma elite latifundiária em Santa Cruz e Beni que hoje quer “independizar” a região conhecida como meia lua formada pelos Departamentos De Pando, Beni, Santa Cruz e Tarija do resto do país. Beni desenvolveu-se economicamente com a pecuária de corte. Os EUA é o câncer que destrói a América Latina.
A oligarquia do MNR entrou em decadência sendo substituída pela oligarquia neoliberal, aquela que queria privatizar o gás natural exportando o produto pelo Chile, país que roubou o mar da Bolívia na Guerra do Pacífico. Isso provocou a Guerra do gás e a derrubada de Gonçalo Sanchez de Lozada, “el Goni”, um homem que governava a Bolívia e que não sabia falar fluentemente o idioma espanhol. Um troglodita e bossal que queria entregar a única riqueza da Bolívia, o gás natural, para os chilenos e o cancerígeno EUA.
Goni privatizou a água a mando do Consenso de Washington e das corporações neoliberais que queriam se apropriar da água e de todos os recursos naturais bolivianos. A água foi privatizada. Seu preço subiu escandalosamente. Até água da chuva eles queriam cobrar. A Guerra da Água foi uma brutalidade do governo neoliberal e da empresa Bechtel contra o povo boliviano. Foi necessária muita luta da sociedade boliviana para reverter a privatização da água no país. Morreu gente por causa dessa guerra da água. Não sei quantos. A guerra da água se deu em Cochabamba, na região dos valles ou quebradas subandina.
Com a queda de Goni, Evo Morales entrou em cena. O país melhorou social e economicamente com o governo de Evo. É o que mais cresce economicamente na América do Sul. O país exporta gás natural para o Brasil e a Argentina. O gás natural é matéria prima fundamental para funcionamento das termelétricas quando a água tá escassa nos reservatórios ou represas comprometendo o abastecimento público e a geração de energia pelas hidrelétricas. A construção do gasoduto Brasil Bolívia foi uma obra estratégica para a América do Sul e para evitar apagão no Brasil.
O povo boliviano é de longe o mais oprimido da América do Sul. Oprimido pela Guerra do Pacífico onde perdeu o litoral de Antofagasta para o Chile que em troca construiu a ferrovia La Paz Arica e livre acesso a esse porto. Oprimido pela Guerra do Chaco com o Paraguai. Oprimido pelo colonizador espanhol, a oligarquia do estanho, a oligarquia do MNR e a oligarquia neoliberal.
É um povo oprimido por ter pele e sangue de índio. A mulher é objeto sexual e não vale nada também. A poligamia tá liberada, mas só para homens é claro. A elite branca trata o inglês como língua superior e o espanhol como língua inferior. Uma contradição e ao mesmo tempo uma negação de sua cultura e essência. Uma elite que saqueia a Bolívia há mais de 500 anos. E está cagando e andando para o país.
Existem mais de 30 etnias que vivem nas terras altas do altiplano; nas quebradas sub andinas e nos Lhanos (planície) de Santa Cruz, Beni e Pando. Nas terras altas se alimentam de camélidos (Lhama, vicunha e alpaca), batata, frango, milho e porco. Sucre é uma cidade que cheira frango frito e batata frita. Quando matam uma Lhama cortam sua carne em pedaços e penduram no varal. O sol seca a carne. Depois comem carne de sol como no nordeste brasileiro com batata. Nas terras baixas come-se carne, mandioca, arroz e peixe de rio na Amazônia. A sopa de quinua é um prato típico maravilhoso. A saltenha, um salgado assado feito com recheio de carne moída, cenoura, batata, uva passa, molho de tomate é outra iguaria muito apreciada pelos bolivianos. O boliviano gosta de frango frito, batata frita e salchipapas, união da salsicha com a batata frita.
A cidade de Sucre é toda pintada de branco no seu centro. O Pueblo de Tarabuco é simpático e lá comi com minha mãe um abacate pequeno e queijo de cabra orgânico. Um vilarejo simpático onde testemunhei um carnavalito de sua gente. Tarabuco é o nome de um instrumento musical típico tocado pelos moradores do vilarejo. Dançam o Pujllay sempre aos finais de semana. Fui lá durante um dia útil da semana e não pude ver essa manifestação cultural com meus próprios olhos.
O Parque dos dinossauros, o restaurante “El Patio” onde se come boas saltenhas e as igrejas da Recoleta são lugares interessantes para se conhecer em Sucre. As ruínas do período pré inca de Tiwanaco e as montanhas verdinhas das Yungas de Coroico são outros lugares legais para conhecer na Bolívia.
A Bolívia das terras baixas é politicamente a mais conservadora e reacionária do país. É a Bolívia do latifúndio. A Bolívia que produz soja e cana de açúcar. A Bolívia da pecuária de corte em Beni. A Bolívia que produz castanha em Pando que ajuda a conservar e proteger a Floresta Amazônica. A Bolívia das cidades de Santa Cruz de la Sierra; Guabirá, Montero, Trinidad, Riberalta, Guayramerín e Cobija. É a Bolívia onde se protesta contra o governo com marchas e caminhadas enquanto nas terras altas se protesta com bloqueios de estradas. É a Bolívia formada pela sociodiversidade de pequenas etnias que vivem na Amazônia e no Chaco.
Falei dos dois mundos bolivianos. O mundo boliviano das terras altas e baixas. Um abraço do Brasil até a França para você.
Queria falar sobre a Bolívia. A terra mãe. Terra onde minha mãe no distante ano de 1952. Mas minha mãe e a Bolívia quanto mais velhos são, ficam tão bons quanto um vinho francês curtido e armazenado em um barril de carvalho.
Existem muitos mundos na Bolívia. A Bolívia das terras altas formado pelo altiplano andino e pela cordilheira dos Andes. Os Andes bolivianos são o Tibete da América do Sul.
No altiplano convivem em harmonia uma plateia de indígenas e montanhas. Lá estão as cidades de La Paz, El Alto, Oruro e Potosi. La Paz é a capital, sede dos poderes executivo e legislativo enquanto Sucre é a outra capital, sede do Poder Judiciário. Sucre e La Paz brigam para ser a capital plena boliviana. Nos muros das ruas de La Paz é comum encontrarmos a frase: “La sede no se mueve”. El Alto é a periferia de La Paz. A cidade dormitório que trabalha em La Paz.
O que atrai turisticamente em La Paz é o Parque de La Luna, o vigilante Ilimani com seus mais de cinco mil metros de altitude; o Chacaltaya e o Illampu, montanhas de pedra gigantesca cobertas com blocos de neve. O Lago Titicaca de água salgada foi erguido pela imensidão do tempo geológico. O Lago Titicaca é um mar de água assistido por uma plateia de mares de montanhas. As ilhas do Sol e da Lua embelezam ainda mais o sagrado e salgado Lago Titicaca, mar de altura levantado pela natureza.
Oruro e Potosi são cidades que cresceram e se desenvolveram na mineração. Potosi era uma montanha de prata nos tempos de colonização. Prata que transformou Potosi em uma das maiores cidades do mundo na época enriquecendo a Espanha e sacrificando a vida de muitos indígenas forçados a trabalhar para o colonizador espanhol pelo regime das encomiendas. Com a decadência da prata decaiu junto a oligarquia da prata.
Surgiu assim um novo recurso econômico. O estanho. O estanho é o famoso “metal del diablo”. Metal que formou a oligarquia do estanho composta por três famílias (Patiõ, Hotschild e Aramayo) que monopolizavam a produção e o comércio do estanho boliviano. O estanho é o metal do diabo porque enriqueceu uma oligarquia e matou e empobreceu muitos mineiros bolivianos.
A oligarquia do estanho entrou em decadência sendo substituída pela oligarquia do MNR (Movimiento Nacionalista Revolucionario) liderada por Victor Paz Estensorro, um “progressista”na época.
A Revolução Boliviana de 1952 liderada por Paz Estensorro promoveu a nacionalização das minas de estanho criando a Corporação Mineira Boliviano para cooptar politicamente os mineiros. O MNR fez a “reforma agrária” no altiplano andino distribuindo minifúndios que mal dava para praticar a agricultura de subsistência. A terra distribuída aos bolivianos era pequena em tamanho e tinha solo de má qualidade o que a tornava improdutiva para plantar. Os beneficiários da “reforma agrária” se viram obrigados a vender suas terras e a migrar e inchar os centros urbanos. A reforma agrária boliviana foi realizada no altiplano para aliviar as pressões por terras no Lhanos de Santa Cruz, onde há as melhores terras para plantar no país. A reforma agrária dos Lhanos de Santa Cruz foi feita em Santa Cruz. Enquanto a reforma agrária foi feita no altiplano, em Santa Cruz os EUA deram capital para a proliferação das grandes fazendas produtoras de monoculturas voltadas à exportação. O incentivo ao latifúndio e a monocultura em Santa Cruz contribuiu para a formação de uma elite latifundiária em Santa Cruz e Beni que hoje quer “independizar” a região conhecida como meia lua formada pelos Departamentos De Pando, Beni, Santa Cruz e Tarija do resto do país. Beni desenvolveu-se economicamente com a pecuária de corte. Os EUA é o câncer que destrói a América Latina.
A oligarquia do MNR entrou em decadência sendo substituída pela oligarquia neoliberal, aquela que queria privatizar o gás natural exportando o produto pelo Chile, país que roubou o mar da Bolívia na Guerra do Pacífico. Isso provocou a Guerra do gás e a derrubada de Gonçalo Sanchez de Lozada, “el Goni”, um homem que governava a Bolívia e que não sabia falar fluentemente o idioma espanhol. Um troglodita e bossal que queria entregar a única riqueza da Bolívia, o gás natural, para os chilenos e o cancerígeno EUA.
Goni privatizou a água a mando do Consenso de Washington e das corporações neoliberais que queriam se apropriar da água e de todos os recursos naturais bolivianos. A água foi privatizada. Seu preço subiu escandalosamente. Até água da chuva eles queriam cobrar. A Guerra da Água foi uma brutalidade do governo neoliberal e da empresa Bechtel contra o povo boliviano. Foi necessária muita luta da sociedade boliviana para reverter a privatização da água no país. Morreu gente por causa dessa guerra da água. Não sei quantos. A guerra da água se deu em Cochabamba, na região dos valles ou quebradas subandina.
Com a queda de Goni, Evo Morales entrou em cena. O país melhorou social e economicamente com o governo de Evo. É o que mais cresce economicamente na América do Sul. O país exporta gás natural para o Brasil e a Argentina. O gás natural é matéria prima fundamental para funcionamento das termelétricas quando a água tá escassa nos reservatórios ou represas comprometendo o abastecimento público e a geração de energia pelas hidrelétricas. A construção do gasoduto Brasil Bolívia foi uma obra estratégica para a América do Sul e para evitar apagão no Brasil.
O povo boliviano é de longe o mais oprimido da América do Sul. Oprimido pela Guerra do Pacífico onde perdeu o litoral de Antofagasta para o Chile que em troca construiu a ferrovia La Paz Arica e livre acesso a esse porto. Oprimido pela Guerra do Chaco com o Paraguai. Oprimido pelo colonizador espanhol, a oligarquia do estanho, a oligarquia do MNR e a oligarquia neoliberal.
É um povo oprimido por ter pele e sangue de índio. A mulher é objeto sexual e não vale nada também. A poligamia tá liberada, mas só para homens é claro. A elite branca trata o inglês como língua superior e o espanhol como língua inferior. Uma contradição e ao mesmo tempo uma negação de sua cultura e essência. Uma elite que saqueia a Bolívia há mais de 500 anos. E está cagando e andando para o país.
Existem mais de 30 etnias que vivem nas terras altas do altiplano; nas quebradas sub andinas e nos Lhanos (planície) de Santa Cruz, Beni e Pando. Nas terras altas se alimentam de camélidos (Lhama, vicunha e alpaca), batata, frango, milho e porco. Sucre é uma cidade que cheira frango frito e batata frita. Quando matam uma Lhama cortam sua carne em pedaços e penduram no varal. O sol seca a carne. Depois comem carne de sol como no nordeste brasileiro com batata. Nas terras baixas come-se carne, mandioca, arroz e peixe de rio na Amazônia. A sopa de quinua é um prato típico maravilhoso. A saltenha, um salgado assado feito com recheio de carne moída, cenoura, batata, uva passa, molho de tomate é outra iguaria muito apreciada pelos bolivianos. O boliviano gosta de frango frito, batata frita e salchipapas, união da salsicha com a batata frita.
A cidade de Sucre é toda pintada de branco no seu centro. O Pueblo de Tarabuco é simpático e lá comi com minha mãe um abacate pequeno e queijo de cabra orgânico. Um vilarejo simpático onde testemunhei um carnavalito de sua gente. Tarabuco é o nome de um instrumento musical típico tocado pelos moradores do vilarejo. Dançam o Pujllay sempre aos finais de semana. Fui lá durante um dia útil da semana e não pude ver essa manifestação cultural com meus próprios olhos.
O Parque dos dinossauros, o restaurante “El Patio” onde se come boas saltenhas e as igrejas da Recoleta são lugares interessantes para se conhecer em Sucre. As ruínas do período pré inca de Tiwanaco e as montanhas verdinhas das Yungas de Coroico são outros lugares legais para conhecer na Bolívia.
A Bolívia das terras baixas é politicamente a mais conservadora e reacionária do país. É a Bolívia do latifúndio. A Bolívia que produz soja e cana de açúcar. A Bolívia da pecuária de corte em Beni. A Bolívia que produz castanha em Pando que ajuda a conservar e proteger a Floresta Amazônica. A Bolívia das cidades de Santa Cruz de la Sierra; Guabirá, Montero, Trinidad, Riberalta, Guayramerín e Cobija. É a Bolívia onde se protesta contra o governo com marchas e caminhadas enquanto nas terras altas se protesta com bloqueios de estradas. É a Bolívia formada pela sociodiversidade de pequenas etnias que vivem na Amazônia e no Chaco.
Falei dos dois mundos bolivianos. O mundo boliviano das terras altas e baixas. Um abraço do Brasil até a França para você.