Uma brisa de Dior para Dora Leal
Não escrevo diário, pois tenho uma memória tão excelente que me irrita.
Lembro de detalhes minúsculos, do som de uma respiração, cor de uma ocasião, então escrever um diário seria insultante para mim. Você sabe que esperam sempre um diário de nós.
No meio do caminho sempre há sinais vitais, porém nem todos conseguimos prever, que pena, ou não? Talvez seja uma grande dádiva, afinal não estamos preparados para tudo que nos pega de surpresa.
Estou oferecendo um ingresso que chamam de tempo de vida que me resta, mas não se doa vida, não no sentido que estou querendo doar.
A realidade é traiçoeira. Só sabemos do agora, do já e nem todos sabem realmente; muitos vivem no passado e no futuro.
Eu vivo de forma absolutamente intensa cada instante e nem me mata, não é curioso? Devo ter anticorpos soberanamente incomuns, algum tipo de coisa que me permite ir do céu ao inferno e refazer tudo outras vezes.
Acredito em contentamento, momentos felizes, mas na felicidade constante não. É como paixão, o organismo não tolera um estado de permanente felicidade; a última pessoa que ficou feliz por quinze minutos num orgasmo, teve parada cardíaca e morreu.
Amiga, você conhece meu bom humor. Sabe que eu não estaria aqui se não risse de mim o tempo todo que posso e sempre posso, porque quero.
Olha só eu me rendendo a alegria agora! Se mais tarde vou chorar sangue, não importa, porque é depois e não vivo no depois.
Não tem cheiro de enxofre que me rodeia, uso Dior sempre! A fumaça que me cerca tem o melhor odor da terra.
Só você seria e é capaz de entender minhas idas e vindas.
Graças ao universo sou incógnita e tenho o prazer de ter sua amizade que aceita minha realidade fantástica, porém não aceita passivamente tolices.
PS.: Você ganhou, mas a do enxofre foi cruel...rsrsrs