Ataque de realismo (Para Dora Leal)
Dora, minha amiga,
sabe de uma coisa? Eu não sei nada! Se um dia entendi alguma coisa, desaprendi.
As imagens dentro de mim são de uma tela assustadora.
Há uma fogueira virando brasa, casas e prédios desabando, muita poeira dos escombros e um silêncio que grita e há também uma solidão absoluta. O céu é acinzentado, nublado e sombrio.
Não há dia e nem noite, ambos são iguais, ambos são frios, úmidos e nevoentos.
Nada causa uma alegria que permaneça por mais que uns minutos, na maioria das vezes, dura segundos.
Felicidade é a palavra mais utópica que conheço.
Nasci para a vida, mas a vida jamais nasceu para mim.
Estou cansada de tentar entender o que é isso que me mantém respirando, pulsando; só entendo que não é vida, é outra coisa que não conheço o nome. Por desconhecido, chamo isso de entre uma coisa e outra.
Há um cão que passa, um gato que corre, uma ave que voa e flores descoloridas.
É uma tela rota, perto de esfarelar, mas o perto é cansativo, me causa estranheza e não me abandona.
Sei os dias da semana, do mês e do ano e não tem importância.
Estou doendo, estou triste, mas vazia.
Se eu pudesse doaria tudo para quem quisesse e soubesse o que fazer disso.
Tenho ingresso para um show, que dizem ser imperdível, mas não o usarei e não sei a quem dá-lo.
Está tudo errado, exatamente tudo; desde o início até as reticências... que se dane...