Carta de Esperança
Niterói, 07 de Novembro de 1997.
Henrry,
É exatamente o segundo ano que escrevo para você, na vã esperança de que você encontre estas cartas e me responda, nem que seja apenas um sinal de que ainda não me esqueceu. Faz dois anos desde que você me deixou apenas um bilhete anunciando sua partida, anunciando a dor que eu teria que carregar pelos restos dos meus anos. Não sei ao menos como você está se sozinho ou com alguém. Nunca nem entendi o porquê de teres partido. Sei que naquela época as coisas andavam um tanto complicadas, mas éramos tão dedicados em preservar o nosso amor. Ainda me pergunto se teus pais tiveram alguma haver com isto, já que seu pai sempre foi desgostoso com a nossa relação. Quando fico remexendo minhas memórias naquele último outono juntos, as folhas caídas no parque e nossas risadas misturadas ao som da água caindo da fonte no rio... Estávamos tão felizes. Oh, Henrry... Consegue sentir a minha angústia em não entender sua decisão? A culpa foi minha, meu querido? Jamais falarei que eu te amava, porque meu coração nunca deixará de te amar. E continuarei lhe mandando cartas todo ano, mesmo sem saber se você as recebe, pois nem mesmo sei se o endereço que consegui é o certo. Talvez até chegue, mas e se você mora com alguém que nunca deu a existência de minhas cartas a você? Também até entenderia, aliás, que mulher permitiria seu homem ficar recebendo cartas de uma ex-obcecada.
Guardo em mim a mais minuciosa lembrança da sua existência em minha vida.
Quando um dia você receber alguma carta minha, saiba que estarei te esperando, exatamente no mesmo lugar de quando me encontrou. E te amando ainda mais.
Meu doce sonho de Outono.
Sua eterna,
Maryditte