Pandeiro e violão ou Nomes bonitos aos bois

Prezado amigo, Dráuzio;

Espero que esta não vá lhe encontrar rendido por ladrões.

Há tempos quero lhe escrever, mas, parece que o tempo escorre por entre os afazeres diários. Tenho saudades do tempo em que o tempo era um mero detalhe e o relógio, nada mais que um clássico adorno. Do primeiro, eu nem sabia ler as horas. Foi meu pai quem mo deu e me ensinou. Puxa! Envelhecemos.

Como vai meu amigo, a Emília? E os "meninos", os netos?

Eu, como diz a canção "vou indo, caminhando" a roer os ossos do ofício, mas também, a colher os seus louros. Levando a tiracolo umas saudades.

Tem ouvido as notícias?

Eu não! Desisti! “Azeda-me o fígado” -frase do amigo Ronaldo- uma imprensa que só faz por espiar a polícia e acusá-la de bruta; e o que é pior, afagar os bandidos. É coisa comum num telejornal, um terrorista encapuzado quebrando tudo o que vê pela frente ser denominado carinhosamente, manifestante mais exaltado. Ou, não menos frequente, um assassino confesso flagrado no ato, ser chamado afetuosamente de suspeito.

Mas, ainda tenho esperança na criança de um Brasil sem violência. Acredito numa escola que abrace oportunidades. Entre elas, de formar futuros pais diferentes dos que têm criado seus filhos à imagem do Big Brother. Que foda! Daí os rumos de um país que esqueceu sua música, elitizou toda forma de arte, menosprezou a ciência. Uma nação de jovens com poucos sonhos e muitas ilusões, há mais de vinte anos.

Mas, vamos falar de alegrias. Essas manhãs de outono lembram-me dos tempos de escola, os intervalos das aulas de dona Hilta. Revivem-me Tânia, aquela moreninha dos cabelos anelados. Paixão dos dez anos. E Dulcinéia, por quem arrastavas um caminhão, lembra?

Fraterno abraço, meu amigo. Prometo que dia desses chego a passeio por aí. Se tiver oportunidade antes de mim, venha para pormos em dia as conversas. Se puder, traga a família que só tenho visto pelo Face. Não esquece o pandeiro que o violão eu tenho aqui.