Carta a um ser pseudonímico- 27/nov/2009


 
         Ah, eu te entendo, como te entendo! Queria entender menos. Eu, no entanto, tento, desesperadamente, o mínimo do movimento inverso: ao invés de me dispersar totalmente em outro(s), como tu, tento ainda uma Z. mínima, um centro mínimo a partir do qual a(s) outra(s) saiam pelo mundo.
        Tenho um amigo pessoal que todos os dias manda-me e-mails com dois pseudônimos que se revezam. Hoje, eu lhe pedi que me escreva com seu próprio nome, S., para que eu possa, em algum lugar da vida, me sentir real, um pouco que seja.
        Ele respondeu:"Mas, nós somos tantos! Como vai ser?" Eu retorqui: Apesar disso,de sermos tantos, escreva-me com o seu nome, que eu respondo como Z.,a Z. mínima que me for possível.
        Isto escrevemos hoje, meu amigo e eu, esses dois cheios de labirintos, esses nós, que pertencemos, efetivamente, nós, à estirpe dos labirínticos.
        Se eu pudesse, me seria cigana, assim como tu gostarias de ser o palhaço de um desses circos de periferia; como não o posso, preciso me vestir o possível de uma Z. qualquer, que não pode, esta Z., pretender a ajuda de uma fé específica (embora reconheça o poder de todas) nem de psicanalistas, (não que os menospreze, longe disso) e ainda menos de livros ou de palavras de auto ajuda ???  (também nada tenho contra elas, fique claro).
         Cigana, não das que leem mãos e adivinham futuros mas porque as ciganas perambulam pelas ruas, o que deve ser mais suave do que se poder perambular apenas por dentro de si mesma/o.
        Por isso tudo te entendo, ah, como te entendo! Quisera entender menos. Só devo te dizer que desses, como nós, há uma legião, todos espalhados pelo mundo, num país chamado APÁTRIA, título de  conto que escrevi há muitos, muitos anos.
Abraço fraterno de
Z. uma desconhecida.

Texto escrito na tarde de 27 de novembro de 2009, sexta-feira.