CARTA DE AMOR N° 4

José Carlos,

Recebi hoje a sua carta e fiquei abismada. Nunca pensei que aquele homem carinhoso e solícito com quem dancei na festa de aniversário da sua irmã, virasse alguém inflexível. Lembra que combinamos trocar cartas enquanto você estivesse no exterior? Isto porque tínhamos simpatizado um com o outro e que uma relação amorosa seria viável entre nós. Porém, na sua carta leio que você mudou de idéia porque acha que eu não sou a pessoa indicada para te fazer feliz. Cito as suas palavras: Disseram-me que você faz parte da religião que participa nos escândalos do mensalão e cujos membros são uns fanáticos. Sendo assim não quero mais nada com você.

Estive quase para não responder a essa carta, aliás, por mim mesma não seria capaz, eu não tenho a sua instrução. Tive de pedir a ajuda de alguém. Em primeiro de tudo te digo que você foi mal informado. Os meus pais são dessa religião eu os acompanhei desde menina, mas hoje não tenho nenhuma religião. Para seu esclarecimento vou relatar um episódio triste da minha vida que eu me esforço por esquecer, mas que a sua carta me fez lembrar. Quando fiz 17 anos, no colégio conheci um rapaz muito legal e me apaixonei por ele. Ele é católico a sua família é tradicionalmente católica. Ora quando contei aos meus pais eles disseram que me deixariam namorar só se o rapaz se tornasse evangélico. O rapaz achava isso absurdo e dizia que me amava e seu eu o amava não devia ser uma religião que nos devia separar. Em casa eu fui clara com meus pais: Nós nos amamos e vamos ficar junto. Eles acharam que eu estava errada e me trancaram em casa, aí eu quebrei tudo no meu quarto e tentei me suicidar. Eles então falaram lá na igreja do problema. Um bispo e um pastor disseram que eu estava endemoninhada e que eles iam fazer uma sessão de exorcismo para expulsar o demônio. Durante essa sessão eu me rebelei e aqueles dois me espancaram de tal modo que tive de receber tratamento em um hospital. Quando quis dar queixa deles os meus pais impediram isso. Logo fiz 18 anos e a partir daí os meus pais não se opuseram mais, mas o rapaz ficou assustado com o tudo isso e rompeu comigo. Desta forma eu perdi a fé nessa religião, mas felizmente continuo acreditando em Deus e na Bíblia, mas não pratico nenhuma religião. Depois deste esclarecimento acho que não temos mais nada a nos dizer. Reconheço que me enganei a seu respeito.

Abigail

Autor: Victor Alexandre

Victor Alexandre
Enviado por Victor Alexandre em 14/10/2005
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