Carta ao desapontamento
Essa carta não tem um destinatário, talvez senão o meu próprio desapontamento.
Mas como é possível escrever para algo tão intangível? Vai saber...
O fato é que estou terrivelmente desapontado, decepcionado, ferido, e ainda assim tento juntar um tanto de força pra ficar firme e pra me armar com um sorriso no rosto.
Eu carrego o sorriso com um certo cinismo e conformismo. Por que é realmente um saco ter que explicar para as pessoas o porquê de eu estar triste, ou desanimado com minha própria vida. E as pessoas, bem intencionadas ou não, sempre dizem que tudo vai passar, e que eu preciso achar alguma motivação pra continuar fazendo as coisas que preciso. Ah. Eu não tenho nada contra as pessoas, só estou cansado de explicar que o meu tempo não é o tempo delas e que a forma que eu penso também é diferente... - e sinceramente, não tenho nenhuma ambição de me adequar ao que todos esperam -.
Boto o sorriso na cara como um ato de rebeldia. Seguirei furtivamente do jeito que eu acho que preciso seguir, e ainda assim passarei a todos um ar de que está tudo bem. Como um perfeito cidadão padrão...
Seria genial se não fosse idiota. Por que assim que eu atravesso a porta de minha casa o sorriso se desfaz, e na minha solidão, experimento um tipo de ressaca moral pelo fingimento.
Somando-se a isso tudo, surgem outros desapontamentos por coisas fora do meu controle. Parece que depositei minha confiança e o próprio chão em que eu piso a alguém que não sabia o que fazer com eles. Ou que não tinha uso para tanta responsabilidade.
Daí minha frustração, meu choro silencioso e minhas reflexões misantrópicas nas noites de insônia onde o tempo parece derreter e escorrer pelos meus olhos.
O tempo é relativo e parece que desacelera com o sofrimento e a ansiedade...
Acho que vivi uns dez anos nos últimos seis meses com todo esse meu desapontamento
e no fim, ninguém percebeu.