Limpei de você: a casa, a vida e o meu coração.
O vi indo embora. Levar todas as coisas na mão, como quem foge ou tem medo de que o façam desistir. Estava apressado para começar outra coisa. Enquanto fiquei no sofá observando você entrar na minha casa diversas vezes por ter esquecido uma toalha, uma escova, um talher. Enquanto o seu bilhete premiado continuava no sofá. Você não se despedia todas as vezes, e acabava voltando. Num passo lento, promiscuo e meticuloso. Sempre deixava a porta aberta, não lhe dizia tudo que faltava por medo de não ter motivo para voltar. Sentei em cima na sua camisa predileta, e quando achava que tinha levado tudo, teve que voltar. Faltava a maldita camisa. Quando já não aguentava, fiz uma faxina, lhe dei a camisa e o conjunto de mentiras que andou contando. Devolvi tudo, peguei minha integridade de volta, levantei a cabeça e me dei uma chance de encontrar um homem de verdade. Mas sem pressa. Não quero qualquer coisa, por não ser qualquer coisa. Eu vi você chorar para entrar, enquanto eu me despedaçava. Sabia que abrir a porta, era dar a você o direito de pegar mais alguma coisa e levar um pouco mais de mim. Fiquei em cacos. Você foi cruel. O meu sentimento por você acabou escravizando minha humanidade. Deixar você ir de verdade, quase me matou. Arrancou de mim uma infinidade de esperança empilhada.
Agora limpei os móveis, troquei a geladeira de lugar, mudei o corte do cabelo e já penso nas viagens de fim de ano. Sabe, eu estou sorrindo, não é por você ou pelo sentimento. Estou sorrindo por estar apaixonada por mim, pela vida, pelas experiências e oportunidades. Estou sorrindo pela filosofia de sorrir sempre. Dias nublados não me assustam. Limpei a casa moço, e não troquei a fechadura. A você não sirvo nem mesmo um café, já lhe servi a vida, esgotei o estoque de servidão. Seja feliz, somente isso.
Você tem toda razão, vou superar isso, mas não por ser um escorpiana e sim por ser a Milena Miranda mais forte que eu conheço.