Uma carta cinza
Querido amigo Pablo Calazans
aqui segue não uma carta, mas talvez apenas um amontoado de comentários sobre o tanto de coisas que temos escrito e publicado por aí.
Fato que parece que estamos numa competição não anunciada para ver quem faz o texto mais sofrido. Fato também é que minha vida não anda exatamente onde queria e me questiono frequentemente sobre o que eu venho me tornando... ou o que me tornei. Me cubro dessas lamentações como se fossem medalhas ou cicatrizes dignas de se expor e fico fermentando pensamentos que não gostaria de ter. O resultado, sempre escorre-me pelos dedos desse jeito caótico e doloroso. Será que é só isso que eu sei fazer com esse dom questionável que eu tenho para a escrita. Será que essa porra é realmente um dom?
Será que eu toco minimamente os outros pra que valha a pena continuar gastando energia com isso? Não que eu faça tudo pelo prazer de ser lido – ou compreendido – Mas acho que parte da intenção é essa mesma.
Eu escrevo pra sobreviver e pra não terminar num hospício. Não sei se passa o mesmo com você, nem quais são suas motivações. Mas pelo que eu tenho lido, parece que você anda tão dado à introspecção e a lamentação quanto eu. Talvez com mais sucesso do que eu na hora de por os sentimentos no papel.
Confesso que sinto falta de nossas conversas e divagações alcoólicas, mas entendo sua necessidade de ruminar suas ideias sozinho a maior parte do tempo. - Assim também é comigo.-
E seguindo a linha de confissões, digo a você que não tem sido fácil para mim lidar com minhas perdas recentes. Mortes, rompimentos amorosos, desenganos, decepções e as incertezas do dia a dia que geralmente passam na cabeça de um homem solteiro de trinta anos.
Não acho que superei minhas perdas por que não tenho sido muito bom no quesito da aceitação de que sim, a vida é uma brutalidade do começo ao fim. Não é um parque de diversões como gostam de retratar por aí. Acho que a aceitação desse fato tornaria a viagem mais tranquila... talvez até prazerosa, pra quem tem tendência ao masoquismo.
Não quero me alongar falando sobre coisas óbvias e toscas e te entediar com uma leitura alongada além da conta, portanto vou direto ao ponto.
Estou tremendamente cansado de um jeito que usar essa palavra chega quase a ser um eufemismo.
Cansado de fazer as coisas do mesmo jeito e talvez sem criatividade pra aprender algo novo.
Se você tiver algum insight nesse ponto pra compartilhar, eu ficaria muito grato. Se não, pelo menos aparece para uma cerveja.
Um abraço, R.