Querida Rosa

                     Pedi o seu perdão, mas tenho certeza de que você não me concederá tal dádiva divina, nunca.
                     Reconheço que fui muito rude com você, contudo tal acontecimento foi em decorrência, como você sabe, de toda uma situação e pressão pela qual eu vinha passando e que culminou com aquela cena entre mim, você e aquele indivíduo.
Tal indivíduo (se é que eu possa classificá-lo assim) não passou de mero espectador, e hoje nem lembra de mais nada. Você, contudo, não esquece e não me deixa, também, esquecer.
                     Argumento em meu favor, ocorrência a que eu não dei causa alguma e pela qual você passou e que obteve uma repercussão muito maior, e que envolveu aquele cabra safado, pilantra, crápula, canalha e cafajeste do Cravo.
                     Cravo já era casado (O jardim todo sabia) e disse a você, querida Rosa, que era solteiro, e você acreditou piamente e viveu com ele uma tórrida aventura amorosa.
                     Tempos depois a verdade veio à tona e você, querida Rosa, sofreu bastante por ter sido tão tola e por  não ter tido o devido cuidado de verificar antes nos registros que estavam ali tão perto de você o estado civil do Cravo.
                     Compreendo que você estava empolgada com a situação de destaque ocupada pelo Cravo naquele amplo e belo jardim, fato que fez com que você baixasse a guarda e os cuidados prévios que deveriam ter sido observados foram deixados de lado.
                    Para uma parte do jardim você não passou de uma jovem TROUXA, já para outra parte não passou de uma VAGABUNDA.
                   Até os dias de hoje, vez ou outra, ouço comentários sobre este triste acontecimento. A estória vai passando de uma geração a outra, e a depender de quem conta, ora você é taxada de uma coisa ou de outra bem pior.
                  Sei que você já olvidou tudo isso e até - pasmem - perdoou o Cravo, de todo o seu coração, só não aceito o fato de por um erro bem mais leve eu não ser perdoado pelo mesmo coração que reserva, com especial carinho, um cantinho para o Cravo (que para mim nunca passou de um cabra safado, pilantra, crápula, canalha e cafajeste).
                  Parece que em algumas situações a pena é inversamente proporcional ao dano causado.
                  Sigo em frente sem compreender o que sente a Rosa e a venturosa vida a que tem direito o Cravo...
                  Seu eterno.
                  Espinho




Vauxhall


 
                 
Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 04/03/2017
Reeditado em 04/03/2017
Código do texto: T5930663
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