THE LAST LETTER
Essa é a última carta que lhe escrevo. Não espere nada mais de mim, o amor acabou. Não sei se foi a distância ou a minha contínua falta de esperança, desisti de esperar mais. Não me pergunte o que será de você porque nem sei o que será de mim. Estou aqui a recolher o caos que está pelo chão espalhado. Eu não existo mais, eu morri. Se algum dia alguém conseguir colar o que sobrou, restará um espectro pela dor devastado. Por favor, não me fale de seu sofrimento. Eu não me importo com você, mesmo que você esteja em todos os cômodos do meu viver. Eu matei você, você não existe mais. Não, eu não quero ouvir falar dos verdes prados pelos quais cavalgamos sonhos alados, não. Foram mais de mil dias e noites atormentados por esse amor imortal. Alma da minha alma. Desejo do meu desejo. Sonho do meu sonho. Tensão sob a minha pele. Intenso, perfeito, doce veneno. Eu bebi tudo o que havia desse amor e morri. Eu morri de amor por você e matei você. Veja! Não existe mais nós; todos os que nos uniam foram rompidos. Eu sigo agora só com esse não no peito. Siga você também e não volte jamais. Não chore, não grite, não apele e não se desespere. Você jamais amará alguém assim, assim como eu também não. Mortos estamos porque matamos o amor em nós. Enxuguei minhas lágrimas, rasguei minhas vestes, cortei meus pulsos. Não há impulso de vida e esse tique-taque que você ainda ouve em seu peito é apenas um velho relógio a contar o tempo que perdemos um nos braços do outro. Ah! Por favor! Faça-me um favor: não me lembre das noites intermitentes de desejo e paixão quando nossas entranhas confidenciavam uma na outra as miudezas desse gostar que aprendemos pelas madrugadas. Por favor, não. Não me torture com palavras doces e doces promessas de me tomar pela mão e correr até o mar e mergulhar na escuridão e desfazer-me em beijos e abraços e desejos e paixão. Eu não existo mais. Olhe! Veja! Veja o que eu não sou. Eu não sou o seu grande amor. Eu não sou nada e ninguém eu sou, nem você também o é. As flores que me mandaste secaram antes de chegar e chegaram mortas, como morta sou a portadora desse amor. A morte chegou junto com a promessa e selou o desfecho. Não me peça para ressuscitar o que não resiste ao poder da oração. Meus joelhos estão arqueados e Deus não ouviu a nossa prece. O calvário continua continuamente. Fomos, somos e ainda seremos pequenas mariposas ziguezagueando em torno da luz, desejando encontrar o amor e por ele sermos consumidos. Você foi a minha luz, o sol em meio da escuridão decadente desse viver. Mas, se apagou e eu perdi meu rumo e perdida vagueio o deserto da desesperança. És tristes eu também o sou. E com a tristeza fizemos romance, com ela vivamos e não a deixemos jamais. Adeus meu amor... Adeus meu anjo caído... Adeus... Caminhemos lado a lado do corcel de almas arrasadas. Àquelas para as quais não há alento algum além da doce chegada da amiga morte. Adeus.
Adelaide de Paula Santos em 23/02/2017, às 21:40.
P.S.:Uma carta é sempre um bom ensaio, depois é só rasgar. Entre o remetente e o destinatário há sempre uma lixeira ao alcance da mão.