País Abortado
Sou filho de avós permissivos. Sou filho de pais adolescentes curiosos e rebeldes.
Concebido "na noite", sou filho do baile e maconha, filho do álcool e cocaína, filho do craque e heroína.
Acredito que tive sorte, pois mesmo sendo rejeitado ainda estou vivo, pois o meu nascimento poderia ter sido seguido por minha morte. Eu poderia ter sido abortado, ou jogado em um rio, ou sei lá, deixado pra morrer em uma calçada qualquer .
Não tenho casa, família ou um lar, mas tenho ainda sim "uma vida".
É verdade que as vezes me questiono sobre meu abandono, me pergunto porque fui rejeitado, mas logo me conformo, pois a mulher que me rejeitou deve ter sentido algo por mim, pois não me matou.
Fui deixado em baixo de um banco em uma estação, levado ao orfanato onde fui criado e "depois de grande" fugi. Fugi e fujo de novo se for o caso.
Estou lutando sozinho para sobreviver, só posso contar comigo mesmo e com a bondade de alguns homens.
Sou o vômito da sociedade, sou a ruptura no imagem perfeita através do vidro do teu carro, sou o seu olhar marginalizado, sou as lagrimas de um país abortado.