CARTA ABERTA A DONALD TRUMP E AO MUNDO

Creio, ó caro D. T. que tens recebido Cartas

Praticamente de todos os cantos do Mundo

Mas, pelo andar da carruagem, tu não descartas.

Estás levando tudo à letra, e bem a fundo,

E a estas reacções tu ages d´ ouvidos moucos

Enquanto vai ficando cá um mal profundo.

Tu sabes que, entre os homens, há os sãos e os loucos

Sendo estes, quiçá, muito mais numerosos

E, entretanto, os primeiros são-no muito poucos.

Não abundam no mundo factos generosos

Nem decretos que satisfaçam toda a gente

Mas os teus, como vês, estão sendo desastrosos …

Diz-se “quem se não sente não é filho de boa gente”

E os tais decretos, apesar de muito vagos,

Estão tornando todo o mundo impertinente.

Todos sabemos a intenção dos teus encargos,

Todos sabemos que agitaste mil promessas,

Mas agora, ao cumpri-las, estás fazendo estragos.

Está quente todo o mundo e quentes as conversas,

Estão quentes as ideias e as demais paixões

E as malquerenças já sobejam controversas …

Jamais se rabiscaram tantas delações,

E jamais se escreveram tão amargas prosas

Que vergonhosamente só colhem emoções.

Não é minha intenção, por razões cuidadosas,

E muito menos por falaciosa fantasia,

Tomar combóio nestas cartas engenhosas.

Não quero prosas nem intento dar lições,

Apenas quero, e só, tornar digna a Poesia

Pois entrará melhor nos ingénuos corações.

Assim, qual poeta que escreve à luz do dia

E dentro do que ocorre nas raras criações,

Quero que tu, D. T., pares a tua teimosia!

Olha para o concerto de todos os Continentes:

Na tua própria Terra impera o oportunismo

Vendo-se transformada em quinta de clientes;

Olha para o concerto do triste servilismo

Vendendo ao desbarato a sua liberdade

Em troca de um interesse ou do seu egoísmo;

Olha para o concerto da desigualdade

Com milhões de cidadãos sem qualidade de vida

E alguns, bem poucos, a viver na saciedade;

Olha para o concerto dos que não têm saída,

Figuras públicas e artistas contestatários,

Que contra ti estão em guerra destemida;

Olha para o concerto dos ventos carbonários

E dos povos imigrantes sem alternativa,

Vendo na América o melhor dos santuários;

Olha para o concerto do México à deriva

E dos demais Latinos que tu menosprezas

E que já foram tua louca prerrogativa;

Olha para o concerto do Mar que desprezas,

Não queiras fazer dele o Muro de Colombo

Tornando a Atlântida a melhor das tuas presas;

Olha para o concerto da Europa, qual biombo

Elevado entre ti e os novos Países de Leste,

Querendo renegar a síndrome de um tombo;

Olha para o concerto da Rússia, que investe

Em ser a justiceira do cruel Estado

Vencendo para sempre a famigerada peste;

Olha para o concerto do Oriente encrespado

Que desde a Antiguidade não tem orientação

E o génio que lá houve jamais será resgatado;

Olha para o concerto das Áfricas e do Suão,

Onde sugeres criar um exílio feiticeiro

Incorrendo, por certo, numa vil traição;

Olha para o concerto do maior sequeiro,

Que aqui e ali vai revelando alguns oásis

Donde só poderás sacar algum dinheiro;

Olha para o concerto das Índias e dos Brasis,

Dos Tibetes altaneiros, da China amuralhada,

Que para o teu Projecto se ornam de verniz;

Olha para o concerto da tua trapalhada

Que descuidou na hora aquele fiel Pacífico

Rasgando as convenções feitas na hora errada …

E agora, sim, neste momento tão específico,

Como vais conciliar a nobre Oceânia

Com o teu “reino” supostamente honorífico?

Ai, aventureiro Trump, é tal a miscelânea

De ocorrências, que te são contra ou a favor,

Que te receio na bênção de Santa Estefânia.

Tal é o eco p´ lo mundo, tal o desprimor

Que bem precisarias da sua protecção

Em vez de cavalgares a onda deste horror.

Pra terminar esta missiva eis a questão,

Que quero bem frontal e sem estorvo,

E para a qual espero a tua acareação:

Perante o Fórum da ONU, que agora é novo,

Que trunfo esconderá a palma da tua mão:

As negras trevas, ou o advento dum Mundo Novo?

Queira Deus qu´ esta deriva não destrua o Povo …

Mas, como este é sereno, direi feito almirante:

“É só fumaça, é só fumaça… Adiante, adiante!”

(Fazendo fé que não aumente esta desgraça

Podendo tudo lapidar-se, com´ o diamante,

Direi apenas: os cães ladram e a gente passa!)

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 03/02/2017
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