Qual é o sabor da liberdade? - Carta 3
Tente aquecer-me neste inverno que insiste em congelar-me. Os flocos de neve são mais belos na TV, aqui é tudo congelante e estranho: não consigo mais encontrar sozinho o caminho para sair deste castelo.
Você já desistiu? Assim, sem lutar? Eu talvez não fora claro: não quero que vá, quero que abra a porta, que chegue, que me abrace forte e tente jamais soltar; todos me soltaram após abraços frios e distantes, preciso de alguém que fique, preciso que você fique. Fique, por favor.
Não posso ser a resposta certa para qualquer pergunta sua. Não tenho a chave para abrir o castelo em minhas mãos, tenho que procurá-la, tenho que me lembrar de quando o jardim era florido e eu o regava todos os dias. Faz muito tempo. Há muito tempo não saio, há muito tempo não respiro o ar puro que o lado de fora trazia-me. Você ainda quer entrar? Ainda quer que eu abra a porta? Ainda quer vir e me abraçar?
Eu devo lhe pedir perdão? Alguma palavra rude saiu de minha boca? Jamais fora minha intenção. A amargura se fizera presente em mim e, muitas vezes, as palavras saem sem que eu possa controlá-las. Não sei o que dizer, não sei o que fazer. Preciso encontrar o que há de bom em mim para convencê-la a ficar.
Estive preso em uma caixa em forma de coração e não conseguia respirar. Que bom que daqui de dentro deste castelo, pelo menos, ouço sua voz. Estive pronto para dizer "adeus" mas não fui forte o suficiente. Acabei ficando aqui sozinho.
Qual a chave certa? Você me dará tempo para a encontrar? Tenho medo de não ouvir mais sua voz daqui do portão e, ao voltar, você ter fugido. Não vá, eu a prendo junto a mim, para que nunca parta, para que nunca fuja: fique. E não fique apenas um pouco, traga vida para cá novamente, traga sorrisos, traga amor: fique para sempre, sua casa pode ser onde eu estiver.