SILÊNCIOS

Naquela noite ligeiramente obscura, era o céu e a tímida luz do luar. Olhávamos a cidade, e eu pensara tanto em te falar da nobreza de poder dividir alentos, ainda que silenciosos em demonstrar, ainda que distantes em aproximar todas as fantasias e esculpi-las em ti.

Imaginei o quanto teus silêncios podem falar naqueles gestos. O que tu pensas quando entra em teu quarto, quando sentes a brisa te tocar? O que tu queres quando suspira em teus ruídos, quando pensas em me falar?

Não sei. Não procuro saber, e é isto que agrega tantos sentidos a esse querer. Sem muitas pretensões. Sem cobranças excessivas. No escuro do saber alheio. Controle sem tê-lo. A segurança sem efeito. Sem procurar respostas aonde quase não se tem perguntas.

Pelo que se quiser entender, que viva. Se quiser sentir, que sinta. Se quiser ter, que busque. E para isto as respostas já são consequências daquilo que se pretende.

E ali, depois do céu, do luar, de nós, eu me peguei a imaginar o que teus silêncios te cerceiam. Se dizem de ti, porém, certamente dizem muito mais de mim.