Carta ao amor
Prezado amor:
Faz tempo que não nos vemos, ouso dizer que nunca nos conhecemos. Mas ainda assim, me sinto tão íntima da ilusão de ter-te por perto. Justo eu a sentir-me tão íntima? Alguém que nunca serviu de inspiração para o amor de ninguém, que nunca fez o coração do outro bater tão forte que parecia que estava saindo do peito. Justo eu, não? Eu, que te conheço apenas de romances lidos nas madrugadas chuvosas, dos poemas de Vinícius, das canções do Milton. É uma grande ironia sentir-me próxima a algo que nunca tive, algo que escrevo sobre sem nunca ter provado uma gota. Algo que parece tão inatingível para alguém como eu ... talvez morra somente te conhecendo em escritos, porém nunca em sensações. Isso é triste. Nunca saber como é dar-se ao outro amando-o, que me olhem com carinho. Talvez essa seja a razão da vida: que alguns o vivam e que outros, apenas escrevem sobre.