DROGARIA GOIÁS, uma rede de farmácias que existia em Goiânia na década de 80, mais precisamente no ano de 1984 e mais precisamente à DROGARIA GOIÁS localizada na Av. Anhanguera ao lado da entrada do antigo Mercado Municipal de Goiânia, no mês de junho de 1984.
Neste dia, 15 de junho de 1984, eu entrei nesta farmácia por volta das 09:30 para tomar uma simples injeção de bezentacil 1600mg, pois sofria de “reumatismo no sangue” e deveria tomar a cada dez dias essa bendita injeção, “quem conhece sabe que dói muito”, tinha prescrição médica e tudo mais, mas, para meu azar, a pessoa que fez a aplicação (senhor João) não tinha preparo algum, pois ao introduzir a agulha no meu braço (naquela época podia aplicar no musculo do braço sem nenhuma restrição) ele não puxou o êmbolo da seringa para verificar se havia atingido um vaso sanguíneo e foi logo injetando o medicamento.
A consequência de tudo isso foi que em menos de dez segundos eu desmaiei e só recobrei momentaneamente os sentidos quando já me encontrava dentro da ambulância que estava me levando do Pronto Socorro (Rassi) para o Hospital Santa Helena. A dor que sentia naquele momento era tão grande que pensei que meu braço havia sido esmagado, só percebi que não se tratava disso porque olhei e vi meu braço no lugar, mas a dor era muito intensa que acabei por desmaiar mais duas vezes antes de chegar ao Hospital Santa Helena e depois disso, só na recepção do referido Hospital foi que recobrei novamente os sentidos, então gritei de dor e uma enfermeira veio até mim e pediu o número de um telefone para contato, passei o da minha amiga Euci, que tinha um salão de beleza próximo ao Hospital.
Por volta de duas horas da tarde a amiga Euci mandou uma funcionaria dela me visitar no Hospital para saber o motivo de eu estar ali, quando contei, ela ficou muito triste e revoltada, então teve que retornar ao salão para que a Euci fosse até em casa avisar minha mãe, que ao receber a notícia entrou em desespero, pois não sabia ao certo o que havia acontecido.
Quando minha mãe chegou ao Hospital já era mais ou menos 21:00 horas, mas no meu pensamento ela havia chegado logo que minha visita saiu, pois neste ínterim eu desmaiei novamente, vindo a recobrar os sentidos quando minha mãe entrou no quarto.
O motivo de tantos desmaios era a intensidade da dor que sentia, pois, o medicamento estava tentando circular pelos vasos e capilares no meu braço e mão esquerda, nisso, dada a dificuldade de circulação a dor era muito intensa e nenhum medicamento conseguia diminui-la, as vezes era colocado no soro uma dose de xilocaína para conter tamanha dor, mas quando seu efeito passava eu gritava novamente, pois era isuportavel. Colocaram tanta bolsa de agua quente na parte posterior do meu ombro esquerdo que a pele soltou. Os médicos chegaram a comentar que meu braço teria que ser amputado. Logo que a medicação que estava sendo aplicada começou a fazer efeito, eles descartaram essa possibilidade, mas disseram que a mão seria amputada, possibilidade que logo depois também foi descartada.
Então depois de dez dias internado e tomando muitas injeções, soros e remédio via oral, recebi alta e orientação do médico para que tomasse a medicação que ele me receitou até que a trombose parasse de avançar, para que no momento da amputação dos dedos ela já estivesse estabilizada e não precisasse fazer mais de uma cirurgia.



Então ao retornar para casa foi que a ficha caiu. Teria que conviver agora sem parte de meus cinco dedos da mão esquerda, como iria ser minha vida a partir daquele momento? Como iria fazer para trabalhar e ajudar minha mãe, já que quem arcava com 70% das despesas era eu, como poderia ter firmeza na mão para segurar o guidão da bicicleta? Meu instrumento de trabalho!
 E pensar que o proprietário ou o administrador daquele empreendimento nem sequer teve despesas hospitalares relacionados ao dano que me causaram, nem sequer me procuraram para sugerir algum tipo de compensação por todo o dano causado. Se não fosse por uma amiga da Euci, que na época trabalhava na Assembleia Legislativa ter me auxiliado, nem mesmo a medicação eu teria recebido deles. Por conta da intervenção desta amiga foi que começaram ao longo do tratamento a me pagar um salário baseado na média dos três últimos meses que recebi na empresa onde trabalhava na época (F. Moutran Tecidos LTDA – O REI DO RAION) e também os remédios que eu precisei durante o tratamento.
Uma outra chateação foi que no momento que aconteceu o incidente eu vomitei muito e como usava prótese dentaria, esta se foi junto ao vômito e não a recuperei depois, nem isso eles me reembolsaram, tive que fazer outra e parcelar o pagamento. O problema é que na época eu tinha apenas vinte anos e nenhum conhecimento jurídico ou pessoas influentes, por este motivo, nada recebi em forma de compensação pelo que me causaram.
Sem contar que, antes de fazer a cirurgia para retirada dos dedos, o meu médico receitou um remédio que ajudaria a descoagular o sangue, na esperança deste circular melhor e não causar tanto estrago. O problema é que tal medicamento (Marcomar), afinou demais o sangue, cheguei a ter uma hemorragia e quase levo o farelo de tanto perder sangue. Meu sangue saia pelo nariz, urina, dente cariado e pela boca ao cuspir, passei uma noite inteira sangrando dessa forma.
Logo depois que meu médico me deu alta, dizendo que já estava apto para retornar ao trabalho, o pessoal da Drogaria Goiás parou de me pagar o salário e fornecer o medicamento. Só que o médico não me disse que eu iria sofrer mais um pouco por conta de tudo, pois tive que eu mesmo fazer as vezes de fisioterapeuta, fiquei três meses com a mão enfaixada como mostra a foto acima então meus dedos ficaram travados, qualquer tentativa de movimento doía como se estivesse arrancando os pedaços que restaram dos dedos. Tive que, pouco a pouco, introduzir uma pequena bola de borracha entre a palma da mão e o polegar para fazer um leve movimento, isso me causava tanta dor que chorava horrores, até que depois de dois meses fazendo isso eu consegui abrir a mão e movimentar os dedos sem sentir muita dor.
Mas sobrevivi e graças a Deus hoje tenho saúde e uma bela família, muitos amigos um emprego bom e sou feliz.
Hoje minha mão esquerda é assim:
 
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Contei esta história aqui na esperança de que as pessoas tomem mais cuidado quando forem aplicar uma injeção.
 
 
Macapá-AP, 23/11/2016
 
Bert Noleto

OBS* a imagem do meio não é da minha mão, no entanto coloquei ela para que saibam que meus dedos ficaram iguais ao desta pessoa. (imagem de uma reportagem na internet)
Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 25/11/2016
Reeditado em 16/03/2018
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