A Segunda Chance
Ao encontrar com seu antigo vizinho que passava pela mesma rua, sorri e diz:
- Olá!!! A quanto tempo! Tudo bem?
O vizinho demonstra alegria, respondendo:
- Que bom te encontrar, tudo e você?
A quanto tempo você não demonstra alegria em rever alguém?
Levantei essa questão hoje... O mundo está de pernas para o ar! Não sei se é impressão minha, parece- me que ter problemas virou rotina na vida de todo mundo! Todos que revejo não tem outro assunto a não ser desfiar um rosário de problemas!
As pessoas são diferentes, mas os problemas são os mesmos pra todos: saúde, falta de dinheiro, consequentemente as dívidas a pagar, falta de emprego e brigas no lar!
E parece- me que justamente essas pessoas são as que você mais se encontra pelas ruas, ou são as que mais te visitam!
Só que você, assim como elas também está sofrendo dos mesmos problemas! E de repente, sobe aquele arrependimento de ter pego aquele caminho, apenas para não ter encontrado esse alguém? Ou desejou não ter ouvido a campainha escandalosa para não ter a atendido?
Saiba que é normal sentir isso... É difícil manter a garra quando todo mundo a sua volta fala das mesmas coisas que te fazem sofrer!
Nesta semana, algumas pessoas da minha família entraram e saíram da minha casa, onde estiveram para desabafar! Falavam dos mesmos assuntos, porque convivem umas com as outras. Todos com os mesmos problemas em comum. E eu procurei paciência para ouvir todos eles, compreende- los. Sempre que eu pensava que um novo texto sairia, alguém chegava! Fora que é mês de férias... A casa vive num tráfego intenso!
Os dias foram passando, essa situação se repetindo, e eu me irritando!
Amo ouvir as pessoas! Elas são minha fonte de inspiração em tudo! Mas, eu também sou uma pessoa! Cheia dos mesmos problemas que todos, vivendo essa mesma maré ruim que todos atravessamos!
E em um desses dias em que eu ouvia o desabafo inconformista de alguém, minha tecla Sap interna traduzia: Blah! Blah! Blah!
E aquele blah, blah, blah foi substituido por um episódio que aconteceu a quatro anos atrás.
Acho que já contei sobre ele, mas repito: Eu e minha família quase morremos todos num acidente de carro! A morte preparou três circunstâncias para nos ceifar! Escapamos de uma curva onde o carro quase virou, escapamos dos carros parados no cruzamento que arranhou toda a lateral do carro e um poste parecia inevitável!
O motorista desmaiado no volante, todos gritando desesperados, e eu certa de que do poste não escaparíamos!
Gritei Deus como nunca! Nesse grito tanta coisa eu quis dizer! Ví toda minha vida passando a minha frente! Pensei comigo: 'Não! Viví tudo o que viví pra morrer assim?' Coloquei as mãos no painel e esperei a batida!
Sem levantar a questão sobre milagres, eu estar aqui hoje escrevendo é um! Pois, milagrosamente o carro desviou- se do poste! Ainda olhei para trás, acreditando que nossas vidas tinha acabado- se ali, e que havíamos nos transformado em espíritos errantes! Sem conciência de que havíamos morrido!
Passaram- se três meses para que eu me desse conta de que eu ainda estava viva! De que ainda era palpável e as pessoas podiam me ver porque eu existia!
Cheguei a conclusão de que aquele Deus que invoquei me amava muito e concedeu- me a segunda chance! Uma vida disperdiçada em sentimentos e sofrimentos inúteis, escolhas erradas... Tanto tempo perdido em uma vida que poderia ter sido tão mais intensa! A mesma vida que preguei ser o primeiro e o maior de todos os dons concedidos a nós quando chegamos neste mundo!
Reví tudo o que me aconteceu, as mágoas antigas, as escolhas erradas, as horas disperdiçadas, as várias vezes que não me dei conta de que deixei minha vida exposta ao perigo, o não acreditar nos sonhos, o deixar de sonhar, deixar de acreditar, a incapacidade de perdoar e entender, de olhar para meu semelhante como um igual e não perceber que eu poderia ver pelos olhos deles!
Naquele dia, quando levei minhas mãos ao painel do carro, esperando a batida fulminante, pensei nas pessoas que recebem um aviso prévio para a morte. Que estão no leito de um hospital desejando pelas horas que desperdiçamos, e sabem sob o veredicto médico que estão morrendo e o fim será certo. Pensei também que seria rápido o fim, talvez indolor e não teria tempo em rever as situações em que descuti e deixei de falar com alguém, não daria mais para realizar sonhos, não poderia mais escrever um livro, não poderia salvar o planeta, não poderia descobrir o que é perdão, não conheceria o que é envelhecer...
Mas existe um Deus!
Ele tem a forma e atitudes adequadas ao que cada um acredita, mas Ele existe! Ele é a fonte geradora de onde tudo vem, e Ele me concedeu uma segunda chance!
As pessoas estão intolerantes umas com as outras! Se convivem muito com alguém precisam disputar com ela qualquer coisa. Precisam desesperadamente se auto- afirmar, parecer melhor ou mais importante que a outra, destacar- se mais! Parece- lhes tão importante o que pensam delas, ou acham que precisam ser mais não importa a dor que causem ao próximo. Cada um olhando para o próprio umbigo, a própria vontade, o que importa é o que querem e cada um na sua! Umas querem ter mais problemas que os outros, querem ser mais sofridos, mais coitados, mais vividos, mais estudados, mais tudo! Mais humilde, mais generoso, mais simples, mais tudo de bom ninguém quer ser... Essas coisas trazem decepções, essas coisas é para os fracos, pensam!
E pensando em tudo isso, voltei aquele blah, blah, blah que voltou a ser palavras compreensíveis. Olhei para todos, e existia algo no meu semblante, porque se fez silêncio e todos também me olhavam!
Foi aí que disse com voz segura: "- De todos vocês, eu sou quem está bem melhor!"
Ninguém disse mais nada por uns minutos.
Sim, muita coisa em minha vida mudou desde o acidente! Aconteceram coisas boas e outras não tão boas assim!
Dois meses depois do acidente, e não por causa dele, descobriu- se essa lesão na minha coluna. Passaram- se quatro anos e ainda não posso andar! Mal consigo ficar mais de 5 minutos em pé. Não posso fazer esforço físico por causa dessa lesão e por causa de uma queda de glicose. Eu deveria pensar que Deus é esse que permitiu tal desgraça depois de conceder- me a segunda chance? Deveria pensar como sou azarada e que tudo sempre vai dar errado?
Não, rs! Eu sou forte e por isso foi me dada a segunda chance! Esse segundo recomeço que me permitiu aprender o que é perdão! Essa nova vida onde me descobri, redescobri e me aceitei me aceitando! Onde comecei a ir atrás de meus sonhos, mesmo nesta condição!
Quando alguém vem desabafar, me compadeço do problema que ela sofre olhando pelos olhos dela... Eu escuto tudo e na dor da pessoa procuro aprender com ela, e quem sabe mostrar o que ela pode aprender. Eu agora tenho tempo para ouvir e aprender, para perdoar, para ter paciência, para conquistar, para ser e ter, para ser um ser humano melhor do que era.
Hoje, quando alguém me liga ou reencontro com alguém, a abraço bem forte, sinto bem aquele abraço, olho no seu rosto e dentro dos seus olhos!
Sorrio, me interesso (não por formalidade, mas porque quero saber mesmo), convido a ir na minha casa, pergunto sobre a vida e faço daquele reencontro intenso porque ele pode não acontecer de novo.
Deus, na sua infinita misericórdia nos concede todos os dias uma segunda chance. Sempre e´tempo de aproveitar cada momento como se fosse o único.
Portanto, seja o melhor ser humano que possa ser, vá atrás do seus sonhos, acredite fielmente no que diz e pensa, se permita olhar o mundo de outro ângulo, peça perdão, perdoe, faça coisas novas, cumprimente aquela pessoa que você sempre encontra na rua mas não sabe o nome. Não tenha medo, pois ninguém morre antes da hora. A morte sempre precisa de uma desculpa para levar alguém de volta pra casa. Nada é por caso e tudo tem uma razão de ser.
Aproveite sua segunda chance diária. Ela te surge todos os dias junto com um espetáculo maravilhoso e único chamado amanhecer!
Esta carta está direcionada primeiramente a mim mesma, que não sou a dona da verdade, nem melhor que ninguém, nem menor, nem perfeita, mas que quero sempre viver uma segunda chance, e para isso quero sempre lembrar- me dela!