E silenciar não é consentir
Ouvi uma canção. E hoje estou tão cheia de você. Preciso falar. Mas não posso ligar. Não posso escrever. Não posso nada com você.
Deixa então hipotetizar todas as próximas coisas que escreverei. Me deixa ser quem sou e quem sempre fui com você:
Foi dia 10? Não sou boa com números. Nem datas. Nem cálculos. Fiz inúmeras cadeiras na universidade. Em universidades diferentes. Pessoas que não conheci. Matérias que não passei. Repeti. E abandonei. Porque faço isso quando não consigo vencer. Igual a você.
Tenho planos para mim. Olha só, como evoluí. Tenho vários planos para mim. Mas por enquanto, deixo assim. Correr. Passar. Deixo chegar, sem pressa. Nem presas. Quero ouvir o tilintar das coisas novas chegando e não me desesperar.
Continuo colecionando histórias. Ainda que não lembre de nenhuma agora. Sou péssima em lembrar. Só lembro do que dói. Só lembro você.
Vez ou outra, eu sei de você. E nem procuro. Mas sei. Eu não quero lembrar, mas eu lembro de tanto. E silenciar não é consentir. Aprendi.
Da maneira mais cruel. Aprendi. Eu calo quando não sei. Eu sempre calo quando não sei, agora. O nosso método de escolha para consentir não foi o melhor. Não foi o melhor quando não há o que dizer, mas não se quer confirmar. Não há o que confirmar.
Confirmei. Não houve outra razão para acabar. Acabou? Paixão não era. Amor? Lembrei do passeio no parque. E o quanto eu chorei. Chorei mais. Resisti. Estou sempre resistindo. Aprendi com alguém. Não sei quem. No livro talvez.
Não volta o tempo que perdi tentando te falar. Não volta tempo algum. E se voltasse? Seria sombra do que foi? Nunca! Suas novas histórias me magoam. Quem dirá a ela?! Não queria ser ela. Porque um dia eu fui. Não fui?
Não gosto desse papel. Não gosto do que você faz. Da maneira que expõe as coisas. Do modo como a ama. Do modo como não a ama. Não gosto de estar assim. Mas fui. Fui como ela? Bobeira! Não dá para mudar o que foi. E o agora? Como deixo a impotência do agora de lado, sabe?
Vitórias! Tive muitas. Não contei. Não tinha como dividir com você. Você também. Que bom!
Freia! Para! Coloca o cinto! Se segura! Bate! A porta! A cara! Quebra a merda toda! Desfaz. Refaz. Beija escondido. Pega pelo braço. Sê feliz! Com ela. Com outra. Qualquer uma. Tanto faz.
Mentira. Não dá para refazer o que foi. O trabalho. As viagens. As histórias. O silêncio. Mas as coisas são assim mesmo. Precisam estar mudando sempre. Poderiam mudar, mas juntos. Mas não. Passado. Passou.
Ah! Discorda de mim. Mantém seu silêncio, porque sei que dói. Não quero suas respostas aos meus achados sentimentais. Vê? Não quero desculpas esfarrapadas decorando meu e-mail. Minha caixa postal. Minha conta de qualquer outra rede social. Mantém a exclusão. Não saber de você facilita as coisas.
Simplifica. Grita aí no teu canto. Tenha alguma reação. Engole o choro. Mareja os olhos. Soca a mesa. O peito. O coração. Desfaz as contas. Vai para a casa da sua mãe. Chora sozinho. Mas reaja. Procura algum alento em alguma coisa. Te mando uma foto. Ou um cartão. Uma canção bonita que pareça com a gente. Gente que não existe.
Realça a cor dos olhos. Fica com raiva. Muita. Evangelize-se. Me esqueça. Encontre a paz. Não esqueça. Não espanque a Florbela que amei. Tenta não precisar de mim. Me ensina. Aprenda. Me ensina. Queira mais tempo. Ande por locais que fomos. Sei lá. Passa na minha rua. Vai até minha casa. Vê meu portão. Minha caixa escondida... é sua. Peça a minha mãe. Faça qualquer coisa que chame meu nome. Suspire ou encante.
Só não deixe de sentir. E estar. Fica! Mantenha o pensamento em mim. Mesmo que não faça mais diferença. Fica aqui. Segue a mim. Meus sonhos. Seus sonhos. Por Deus! Me lembra seus olhos. Seu tom. A mudança deles. Não vermelhos. Não quero. Me mantém viva. Inteira. Aí. Aqui. Ou outro lugar qualquer. Me mantém viva no mundo. No seu. Só no seu. Para que nunca esqueça.
Esquece. Não sei como fingir. Esquece. Tudo que disse até aqui. Esquece. Não reaja a nada disso. Esquece. Logo tem seus braços tomados e a embalar. Logo tenho eu o mesmo. Esquece. Mas não esqueça. Esquece. Não esqueça de mim.
~Lenir.