Para um ex amor III
Querido,
Hoje eu fiz panquecas para o almoço. Ainda é seu prato preferido?
O fato foi que me lembrei da primeira vez em que cozinhei para você. Estava tão nervosa que tive que pedir ajuda a minha mãe. Você estava chegando de viagem de algum lugar, se não me engano era sua primeira viagem longa desde que "nos juntamos" e eu queria te agradar só para mostrar o quanto senti sua falta e estava com saudade. Foi naquela época em que eu cismei que colecionaria bonecas dos lugares por onde você passaria e nesse dia você me trouxe uma feita de palha e cabelo de milho. Ainda tenho essa boneca, mas agora fica na casa da minha junto com todas as nossas lembranças.
Quando você chegou eu estava toda enrolada na cozinha, entre massas, panelas e bagunça. Eu lembro do seu sorriso largo quando atravessou a porta da cozinha e me agarrou pela cintura. Acho que foi o abraço mais demorado que nós tivemos em todos os nossos anos. Como eu senti sua falta. Você tinha um aparência de cansado e reclamou que queria toda a minha atenção e eu estava só mexendo panelas. Eu queria que aquele dia tivesse saído perfeito. Esperava está sozinha para que pudéssemos fazer amor ali mesmo e apagar todos os dias que ficamos separados. Era o que eu queria ter feito e acho que você também. Mas nunca chegou a ser assim
Todas as vezes que você voltava de viagem eu esperava ansiosa sua chegada, porque sabia que você passaria primeiro na minha casa e me beijaria como se nunca tivesse beijado antes, e me contaria todas as suas aventuras e tudo o que você conheceu na cidade que desbravou. Mas você nunca me encontrava sozinha e nunca tivemos nossa cena de amor desesperada.
Eu fiquei olhando aquelas panquecas esfriando em cima da mesa e pensei se deveria te ligar e te convidar para um almoço meio que em cima da hora. Não ligue, claro. Nem se quer tenho seu numero de telefone. Perdi o apetite de tanto olhar aquele prato. Tentei a sobremesa fora de hora e lá estava você de novo, flutuando pelos meus pensamentos.
Lembrei do dia em que nos esbarramos no centro da cidade, logo depois que nos separamos. Eu nunca soube andar pelo centro e me vi perdida nos arredores da sua empresa. Você tinha me levado lá uma vez, mas foi o suficiente para eu decorar o endereço. Era hora do almoço e quando virei uma esquina, dei de cara com você saindo de uma padaria com uns colegas engravatados. Não tive reação, você me ignorou, passou por mim como se não me conhecesse e nem sequer olhou para trás. Meu mundo caiu naquele dia. Chorei no meio da rua. Senti vontade de correr atrás de você e dizer o quanto eu sentia muito por tudo o que tinha te causado.
Eu fui burra, egoísta, infantil. Nunca confessei isso, mas reconheço. Levou um bom tempo para ver que a nossa relação tinha chegado ao fim por minha causa e eu sinto muito por isso. Se tivesse um meio de me desculpar... Sinto muito. Mesmo. Me perdoa?