Para quem ficou de quatro
"Até minha cabeça meio-a-meio sacou na hora a profundidade desse poema. Ufa! Estou atordoada..."
Andava a escutar Beethoven quando recebi tua carta. Oh, amiga! Que alegria e surpresa tu me mandaste!... O mensageiro nobre e elegante que ma trouxe gozava somente em me ver destilar prazeres ao ler tua missiva. Mandei-o assentar-se na varanda, servir-se do bom vinho e dos tabacos, enquanto buscava pena e papel para te responder.
Então ficaste atordoada com o meu poema? Assim é. Ficar atordoada acho que foi pouco o termo dito. Senti muito mais em tantas entrelinhas e também no perfume adocicado que traziam o papel e o envelope que mandaste.
Senti mesmo é que ficaste de quatro com o meu incisivo poetar e justamente essa foi a minha inteira intenção para os leitores avisados e desavisados. Queria derrubá-los quando escrevi o poema.
Sempre culpamos os outros quando falhamos e no poema [Lição número 12] dou consciência e responsabilidade ao autor da falha. Não é à toa que já na primeira palavra assumo tudo afirmando: Falhei. O resto é puro desdobramento: é ficar pasmo, é sonhar demais, é ouvir mentiras e verdades, é cegar os olhos e é se ver louco como os amantes são.
Em toda derrota sempre podemos aprender uma lição e só os imaturos aprendem lições somente na vitória. Há sempre o prazer e uma satisfação em procurar a lucidez dentro da loucura.
O nosso mensageiro já se encontra alegre do vinho e inquieto na varanda se assanhando em partir. Não quero vê-lo perder o caminho de volta. Aproveito a sua inquietude para mandar-te de pronto estas palavras. Receba-as com um beijo de uma tarde de verão e ainda um resto de melodia sinfônica.
F.